A Copa não começou
June 1st, 2010 | 64 Comments | Filed in Copa 2010, EliminatóriasAinda faltam 10 dias para a Copa e já há quem sacramente que o futebol do Brasil será chato. Possivelmente ainda birrinha pela não convocação de um ou dois jogadores no universo de 23.
Dando nome aos boi, a choradeira começou com um execrado, enquanto vestia a amarelinha, Ronaldinho Gaúcho. Aquele que ninguém tecia comentários elogiosos enquanto vestia a amarelinha com Dunga. Bastou o exílio (pedido por crítica e público inclusive) para ressurgirem com seu nome em prol da bobagem que falta talento no time. A bem da verdade, o lobby pró-Ronaldinho não ganhou corpo, ainda mais com aval de atuações medianas contra equipes grandes e suposto brilho contra Siena e afins.
O surgimento do time do Santos com Ganso e Neymar deu novo ânimo aos lobbystas, desta vez respaldados tanto pelas atuações dos moleques, como pelo fato de estarem no Brasil próximo ao torcedor e com seus jogos sendo transmitidos em rede aberta.
Dunga não se impressionou e com argumentos sólidos por mais contestáveis que possa ser convocou jogadores testados e aprovados por ele em seus quase 4 anos à frente da Seleção.
Esta Seleção que começou seus trabalhos após a Copa carregando a antipatia generalizada por trás da figura do treinador levou pancadas em seu caminho até aqui com atuações aquém das expectativas nas Eliminatórias atingindo o auge em derrotas para Paraguai fora de casa e empates melancólicos em 0x0 no Engenhão e Maracanã contra Bolívia e Colômbia, com estádios vazios quando Zarga resumiu com propriedade o atual momento do time:
A culpa não é do estádio. É da seleção brasileira.
Seleção essa que contra a Bolívia, por exemplo, não contou com Kaká mas com aquele que seria o substituto que traria talento para o time na eventual falta do camisa 10. Eis como Bender resumiu aquela nada talentosa partida:
Ah sim… Futebol ontem? Diego e Juan correram, tentaram, mas o Brasil de Dunga só jogou bem nos contra-ataques. Ronaldinho Gaúcho está muito mal. Robinho não se achou ontem. Vamos ver se com a volta do Kaká as coisas melhoram.
A atuação da Seleção comandada por Ronaldinho Gaúcho é bem representada pelo cirúrgico e único comentário de Saulo no post:
O torcedor não é bobo e vai lotar qualquer evento de qualidade. Não foi o caso da seleção.
Este era o estado de espírito que envolvia os brasileiros ao fim de 2008, após os malfadados Jogos Olímpicos. Espírito esse que modificou-se na goleada contra o Uruguai em Montevidéu, Copa das Confederações e baile na Argentina em Rosário novamente com perfeito comentário de Saulo que não sentiu falta de Ronaldinho:
A seleção foi absoluta diante da Argentina. Está entrosada e com um conjunto bem montado.
Desta forma, o Brasil ia encerrando 2009 com o time bem ajustado e pensando somente na Copa, com Dunga tendo algum tempo para ajustes finos como encontrar um lateral esquerdo, e para Adriano pedir dispensa do time.
Pouca coisa mudou da equipe que jogando bola e vencendo resgataram o prestígio que estava em baixa provocado pelas atuações dessa mesma Seleção até 2008, especialmente neste ano. Simplesmente por ação midiática nesses meses sem atividade da Seleção, o que estava bom, legal e motivante, é dado como ruim, reacionário e … chato.
Como um fantasma, por antagonismo à imagem de Dunga, 94 puxa a dicotomia bonito x feio, ganhar x perder, e este fantasma paira no ar induzindo que se Dunga ganhar a Copa (sim, Dunga, não a Seleção) será de forma feia e chata, sem representar o futebol brasileiro e parará-pão-duro. Na falta do que implicar, contesta-se a suposta incitação à sentimentos patriótricos por parte da comissão técnica, como se isto fosse fraqueza de caráter ou uma fuga para sabe-se lá o quê.
Bem analisou Juca Kfoury em coluna na Folha quando o Brasil ainda estava no meio do ressurgimento de 2009. Colocou bem as questão à respeito do patriotismo de Dunga em nada interferir no futebol do Selecionado e em nada denegrir seu caráter:
Está pintando um técnico melhor que a encomenda e do que ele mesmo talvez pudesse imaginar que seria
QUANDO, NO século 18, o pensador inglês Samuel Johnson escreveu que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, ele não quis dizer que o patriota é, necessariamente, canalha.
Quis dizer, apenas, que muitos são os canalhas que apelam para o patriotismo como derradeira tentativa de salvar sua pele.
Ao exaltar o comportamento da torcida pernambucana, Dunga não está nem sendo demagogo nem exagerado.
Ele está só querendo que o comportamento dela vire padrão pelo país afora, por mais ingênua que seja a pretensão.
Aos afoitos que desejam decretar como jogará o Brasil antes da Copa começar, e até mesmo definir se a Copa será chata ou legal, é conveniente aguardar um pouco mais de uma semana. A Copa não começou.