Deutschland über alles
April 18th, 2012 | 145 Comments | Filed in Fórmula-1 2012Pois é, o GP da China de 2012 representou um marco histórico no processo de germanização da F1. A pista de Xangai viu mais um piloto alemão alcançar o panteão dos vencedores da Fórmula 1. Nico Rosberg largou na posição de honra – também pela primeira vez – e levou seu Mercedes sem qualquer sobressalto para a bandeirada. Para ele, a espera durou 111 grandes prêmios. Para o time Mercedes, a espera foi mais longa, muito maior do que os 41 GPs desde que a marca assumiu o lugar da Brawn GP: a última vitória de uma flecha prateada havia sido em 1955 com Juan Manuel Fangio, em Monza.
Ninguém duvida de que a Mercedes GP é uma das equipes mais sérias da F1, e que conta com o apoio – e o aporte financeiro, claro – da montadora. O projeto visava ao sucesso em longo prazo, mas o projeto de uma inovadora traquitana de dar inveja ao Professor Pardal, um sistema de dutos de ar acionados pela asa móvel (se por acaso alguém entendeu do que se trata, souber desenhar e me explicar, serei eternamente grato…) colocou o W03 entre os melhores carros do ano, e mesmo antes do previsto pelo planejamento da equipe, os alemães estão no páreo. Para vitórias e para o título.
Pela infelicidade de um mecânico, que cometeu um erro no primeiro pitstop de Michael Schumacher, o heptacampeão ficou de fora da disputa pela vitória, mas mesmo assim a festa germânica foi completada por Jenson Button e Lewis Hamilton, segundo e terceiro. Em outras palavras, os três primeiros postos foram ocupados por três motores da estrela de três pontas, algo que aconteceu justamente em Xangai em 2010, coincidentemente, com o mesmo pódio na ordem inversa. Definitivamente, o plat du jour foi um yakisoba de chucrute, servido com fartura.
No geral, a corrida foi movimentada, com disputas intensas do segundo lugar para trás. Sebastian Vettel e Kimi Räikkönen sofreram quedas dramáticas de desempenho no final e perderam a chance de ir ao pódio. Os carros da Sauber também não apresentaram um ritmo de corrida do mesmo nível que o de classificação. Na contramão veio a Williams. Apesar de posições discretas no grid, Bruno Senna e Pastor Maldonado fizeram ótima prova e chegaram e sétimo e oitavo. Frank Williams respira aliviado. Seus carros se destacam no pelotão intermediário e seus pilotos estão convencendo. Vida nova com os propulsores Renault… nada como contar com algo melhor do que os motores gripados da Cosworth.
A Ferrari voltou à sua realidade. Fernando Alonso foi apenas nono e Felipe Massa desperdiça gasolina.
Então ficou assim. Três corridas, três vencedores, três equipes. Hamilton, terceiro nas três provas, é o líder do campeonato. Equilíbrio pouco é bobagem.
No próximo fim de semana a F1 deve desembarcar e correr no Bahrein, apesar do caos político e da reprovação de qualquer pessoa sã que leia noticiários e esteja consciente da situação enfrentada pela população. Mas todos sabem que os interesses são tudo o que interessa. A Fórmula 1 tem um histórico de ignorar solenemente tanto violações de direitos humanos quanto o clamor da comunidade internacional, contrário à realização de eventos do tipo em países perpetradores das violações. No passado já foi muito chegada às sangrentas ditaduras do Brasil e da Argentina, além de dar de ombros paara o regime de apartheid na África do Sul. Mais do que nunca, a F1 de hoje assume a vocação de ser um parque de diversões para seus dirigentes, patrocinadores e contratantes milionários. A F1 não se importa com peões; quer sabe apenas de reis e rainhas, e no máximo, dos bispos.
A empáfia chegou ao ponto que Martin Whitmarsh, fantoche do Ron Dennis no comando da McLaren, colocou no mesmo saco, em um episódio de diarreia verbal clássica, a guerra civil barenita e a violência urbana de São Paulo. Nada a declarar.
Portanto, amigos, até podemos assistir à corrida do próximo domingo. Desde que estejamos plenamente conscientes de que há pessoas sendo duramente reprimidas pelo seu desejo de melhorar a vida em seu próprio país. Os figurões passarão por cima de tudo com seus helicópteros enquanto manifestantes desarmados estarão sob gás lacrimogêneo, porretes e balas de revólver. Dá nojo. A vontade maior mesmo é de sair no domingo pela manhã para uma boa corrida na praia.