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Um homem com sangue de alta octanagem

May 15th, 2012 por | Categorias: Fórmula-1, Fórmula-1 2012.

Quem vê hoje a carcaça franzina atada à cadeira de rodas e o olhar sereno de Frank Williams pode ter certeza de estar diante de um exemplar de uma espécie praticamente extinta  no mundo que conhecemos como Fórmula 1,  um sobrevivente. Pode confundí-lo hoje com um turrão, que faz questão de fazer tudo no old style e se recusou a acompanhar a cadeia evolutiva do esporte, e por isso deixou os seus melhores momentos no passado e vive do culto ao seu próprio museu. Na verdade, pouca gente sabe como essa história começou e todas as glórias e cicatrizes que este homem acumulou ao longo de seus mais de quarenta anos dedicados ao automobilismo.

O duro Frank e seu amigo Piers Courage

Frank Williams abriu sua garagem em 1969, tempos em que para se montar um time na F1 você precisava arrumar uma grana com alguns patrocinadores para comprar chassi, motor e pneus, um extra para bancar as viagens e ainda convencer um louco a guiar a sua máquina. E foi logo em sua segunda temporada como dono de equipe que ele aprendeu da forma mais dura possível que automobilismo não era uma brincadeira tão simples. Piers Courage, seu piloto e amigo muito próximo morreu dentro da bola de fogo em que seu carro se transformou como consequência de uma batida no GP da Holanda de 1970.

Frank Williams e Patrick Head, a dupla dinâmica

Recuperado do primeiro trauma, a Frank Williams Racing Cars atravessou a maior parte da década de 70 como a atual Marussia. Foi por lá que o brasileiro José Carlos Pace começou a sua carreira na F1 em 1972. O dinheiro quase não rendia, e Frank era conhecido por fazer os seus contatos telefônicos a partir de um peculiar escritório, vermelho, com menos de um metro quadrado,  um símbolo nacional das terras da Rainha: a Red Telephone Box. Só ao final dos anos 70, após uma mal-sucedida parceria com um milionário de nome Walter Wolf, Frank se aliou a Patrick Head e daí surgiu o que se tornaria uma das equipes mais vencedoras de toda a história da categoria: a Williams F1.

Com Head na prancheta e o apoio de uma companhia aérea saudita (pertencente à família de Osama Bin Laden…) a sorte do time começa a mudar em pouquíssimo tempo. A primeira vitória chegou em 1979 com Clay Regazzoni. No ano seguinte, vieram o primeiro mundial de pilotos com Alan Jones e o título de construtores. Lotus, McLaren e Ferrari tiveram que reconhecer a existência de um novo – e competente – rival na disputa de corridas e títulos dali em diante, posição consolidada em 1982 com o campeonato de Keke Rosberg.

Em 1986, a equipe figurava como favorita para os dois títulos, contando com o então bicampeão Nelson Piquet e Nigel Mansell. Ainda no início da temporada ele sofreu o trágico acidente de carro em uma estrada na França que o deixou tetraplégico. Longe do comando durante sua recuperação, o seu time se viu mergulhado no caos e perdeu o mundial de pilotos para Alain Prost. O seu retorno ao pitwall no ano seguinte foi marcado pela conquista do terceiro campeonato de Nelson Piquet, o terceiro também da equipe que leva o seu nome.

Depois de alguns anos de transição, a equipe completa o desenvolvimento de um dispositivo que iria revolucionar não apenas o esporte como toda a indústria automobilística: a suspensão ativa. Com esse item maais o feliz casamento com os motores Renault, saíram de Grove alguns dos carros mais vencedores de todos os tempos no esporte a motor. Mesmo após o banimento do sistema, a Williams se manteve como uma devoradora de títulos ao longo da década de 90, apesar do novo período turbolento vivido pela equipe no período que sucedeu a morte de Ayrton Senna ao volante do FW16. Os ecos da Tamburello não se restringiram à esfera profissional e esportiva; a perda do brasileiro representou um novo drama pessoal para o sofrido Frank, bem maior do que ele gostaria de ter deixado transparecer. Os últimos títulos comemorados pelo time foram em 1997 com Jacques Villeneuve entre os pilotos, mais o título de construtores.

A partir daí, a invasão das grandes montadoras coincidiu com o início das dificuldades enfrentadas pela equipe, e as vitórias foram ficando cada vez mais escassas. Frank Williams foi o único a recusar-se a vender o seu legado a uma fábrica, o que se justificou no momento em que os CEOs decidiram que a F1 não era tão rentável quanto desejavam e picaram suas respectivas mulas. A gigante Williams foi se apequenando até atingir o fundo do poço em 2011, quando terminou a temporada em nono lugar entre as 12 equipes. Frank perdeu também seu braço direito de 30 anos quando Head anunciou sua aposentadoria. É nessas horas, porém, que os grandes vencedores mostram que nunca esquecem o caminho da vitória. Após oito anos longe do degrau mais alto do pódio – e desde 2008 sem qualquer pódio – a Williams conseguiu juntar novamente um bom pacote técnico, um piloto altamente motivado, a estratégia e o trabalho de equipe perfeitos para vencer mais uma vez.

Nem o incêndio que atingiu as instalações da equipe ainda durante as comemorações do aniversário do patriarca e da vitória de seu mais novo pupilo apagarão a conquista. Das cinzas ressurgiu o orgulho da gigante Williams, e se reafirmaram os velhos conceitos do velho Frank, um homem que vive em função do esporte que ama e que superou obstáculos pessoais e profissionais para estar onde está. Sir Frank Williams completa 70 anos, 43 deles dedicados à F1. A categoria hoje reverencia esse dinossauro de olhos sábios e vividos, e espera que lá ele permaneça por muito tempo.

Parabéns, tio Frank.

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6 Comentários para “Um homem com sangue de alta octanagem”

  1. Bender
    15/05/12 - 18:04

    Show Mr. Robinson!
    Essa foto aí do Frank com Nelson deve ser em 86 ou 87 né? Puta época essa! Acordava cedo (ou dormia tardão nos casos de Suzuka e Adelaide) para acompanhar as corridas.

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    Robinson

    1987…

    Nos gps que o Frank foi em 1986, ele ainda andava.

    Quando ele pôde voltar a frequentar as corridas após o acidente, já era 1987.

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    André Bona

    Rapaz, eu lembro do momento exato em que eu vi Mansel estourando o pneu em 86 na Austrália… inacreditável… Caralho, eu falei: agora vem o título! Que pena. Por muito pouco, não foi o tri que viraria tetra no ano seguinte.

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  2. Victor
    15/05/12 - 20:09

    Texto à altura do Resiliente Garageiro.

    Williams é o elo mais forte da F1 com o esporte. Ainda que eu tenha torcido por Schumacher contra Hill e Villeneuve, jamais consegui ter qualquer resquício de antipatia pela equipe.

    Eu nunca consegui olhar a Williams como azarão. A impressão que me passa é que eles estão sempre ali em standby aprimorando qualquer revolução na categoria.

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    Robinson

    Concordo totalmente com você.

    Frank Williams começou duro (como ele mesmo mostra os bolsos vazios na primeira foto) vie pelo esporte e lá conquistou tudo, muito mais como desportista do que como homem de negócios.

    Frank Williams não se vendeu, quando essa parecia ser a decisão mais sensata (e com certeza, a mais lucrativa…) porque sabia que seu legado poderia simplesmente acabar nas mãos de uma grande montadora.

    E ele está lá, até hoje, e quando a chance aparece, ele ganha de novo. Sem discursos de “eu-que-sou-foda”, ou “vocês vão ter que me engolir”.

    Só o sorriso de sempre.

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  3. alexandre
    19/05/12 - 16:27

    belo texto, Sr Robinson. eu só ñ consigo ver os avanços feitos pela f1 nos carros q eu pego (na maioria taxis e mercedões trinta lugares).

    de resto, ñ sei se vc sabe, mas o ron howard tá fzndo um filme sobre a categoria máxima do automobilismo. o twitter dele tá recheado de fotos q, com certeza, vc apreciará.

    https://twitter.com/#!/RealRonHoward

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