Undriveable – Shame on you, Mr. Ecclestone

Em resumo

O tio Bernie nunca estudou Geografia. Ele nunca ouviu sequer falar na zona equatorial, no clima das monções, e talvez não faça a menor ideia de onde diabos fica a Malásia. O que Mr. Ecclestone sabe muito bem é fazer contas do seu negócio, a Fórmula 1. Eis que, para facilitar a vida dos ingleses que poderiam tomar o seu breakfast assistindo uma corridinha no domingo, tipo dez da manhã, o mandachuva de um dos eventos esportivos mais lucrativos do planeta tomou uma decisão que de dar inveja até ao falecido Caixa d’Água (sugestivo, não?), outrora mandatário do futebol carioca. Para ganhar mais uns trocados de emissoras ou de patrocinadores devido ao esperado aumento de audiência com a mudança, ele literalmente mandou a competição por água abaixo.

Ao marcar a largada do GP local para o finzinho da tarde no horário local – por sinal no horário mais comum de tempestades que assolam a região nesta época – ele contrariou a todo o mundo: aos pilotos, que reclamavam da falta de visibilidade quando o sol baixa no horizonte; aos telespectadores, inclusive os ingleses, que viram o início de uma corrida alucinante e cheia de alternativas acabar estúpida e abrutamente numa bandeira vermelha, tal qual um coito interrompido; aos “otários” que compraram o ingresso e foram assistir in loco, e além de tomar uma chuva indescritível, tiveram apenas metade do espetáculo que pagaram; para completar, aos próprios organizadores do GP, que envergonhados, temem um fracasso no próximo ano caso não haja mudanças. Mas nada disso afetou a sua empáfia, pois segundo ele, se a corrida fosse mais cedo iria chover do mesmo jeito. Só que a diferença seria que com a corrida iniciando no início da tarde, como em qualquer lugar exceto Cingapura, após a tormenta – que inclusive atrasou e infernizou a segunda bateria da GP2 – o sol ainda ofereceria claridade para que a corrida fosse até o fim.

Para falar a verdade, após o início da chuva não foi muito fácil para entender o que estava acontecendo com aquela quantidade frenética de paradas nos boxes. Exceção feita para o domínio de Jenson Button, a boa fase da Toyota com seus dois pilotos – Timo terminou em terceiro lugar, Jarno em quarto – e ao novo hábito da Ferrari de fazer crescer abobrinhas. Desde o treino oficial, quando pela suposição de que os tempos dos dois carros era suficiente naquele momento, Massa acabou castigado e sequer passou para o Q2. E o set de pneus de chuva colocados no carro de Räikkönen já estava destruido quando o chuva finalmente evoluiu de garoa à tempestade. A conta, por sinal, pode sobrar para Michael Schumacher. Dizem que ele teria tomado a decisão estratégica na corrida. Com um carro que não anda e toda a equipe em parafuso, querem colocar a culpa justo no homem. Isso sim é desespero.

Fora isso, o Barrichello compensou a péssima largada em Melbourne com uma boa performance inicial, chegando a andar em segundo lugar, porém não foi tão competente quanto costuma ser na chuva, e sofrendo com algumas trapalhadas nos pitstops da Brawn, ficou apenas com a quinta posição. Ninguém sabe como, mas enquanto vários pilotos fizeram até quatro paradas, Nick Heidfeld fez apenas um. Ficou com o segundo lugar. Impressionante.

Hamilton, mesmo de Mercedes e KERS, não conseguiu se destacar em qualquer momento. Ele e sua equipe ainda vão sofrer consequências da mentira que pregaram na Austrália. David Ryan, um cara que trabalhou com Emerson Fittipaldi no título de 1974 na própria McLaren foi sacrificado quando a equipe colocou a culpa inteiramente nele de ter (supostamente) persuadido o piloto inglês a mentir, sem o consentimento de qualquer superior da equipe. Conto da carochinha, mas na Fórmula 1 e principalmente no time prateado, isso á está ficando recorrente. Quem não se lembra do caso de espionagem, quando dados da Ferrari foram flagrados sob posse de um engenheiro lá de Woking? Algo está podre, e fede tanto quanto as atuações do outro piloto, o Heikki Kovalainen, que rodou na primeira volta e simplesmente ainda não completou nenhuma volta em corrida esse ano. Só.

Até que o caos estava divertido, mas quando Sebastién Bourdais comunicou pelo rádio “- Undriveable! Undriveable!”, nada mais pôde ser feito. O que se seguiu foi a peregrinação do senhor GPDA, Mark Webber, que provavelmente influenciou na acertada decisão de encerrar a prova. Vamos torcer para que tio Bernie não esteja gagá, e para que ele se lembre dos carros de F1 se transformando em banheiras ou submarinos são muito ruins. Tanto para o esporte quanto para o negócio.

Dia 19 é na China. Sem guardachuvas, se Deus quiser.

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