Lições turcas
June 1st, 2010 | 10 Comments | Filed in Automobilismo, Fórmula-1, Fórmula-1 2010
O Grande Prêmio da Turquia prometeu muito mais do que entregou. Se não fosse a perseguição frenética das McLarens para cima dos pilotos da Red Bull, a corrida teria o mesmo efeito de um Lexotan. Ainda assim, muita gente da Fórmula 1 levou importantes lições de Istambul.
Esta corrida poderia ter sido a comemoração dos 800 Grandes Prêmios da Ferrari, mas mesmo depois de ser a favorita nos treinos de Mônaco com Fernando Alonso e com o impressionante retrospecto de Felipe Massa na pista, a equipe se apresentou marchando fora da passada, com ambos os pilotos. Stefano Domenicali ainda teve que engolir a Tony Fernandes, chefe da Lotus paraguaia malaia, que declarou que sua equipe após apenas sete GPs já está a apenas 2,4s das Ferrari, com 800. Como ele dormiu com esse barulho no ouvido, não se sabe.
O sétimo GP da carreira de Vitaly Petrov viu a competitividade brotando no piloto russo, dono da melhor volta da corrida. Porém, ele teve muito azar além de um pneu furado em um toque de corrida durante a manobra de Alonso para ultrapassá-lo, abandonando então na penúltima volta quando certamente marcaria uns pontinhos. Apesar de chato, é animadora a sua evolução. Na outra face da moeda, o promissor Nico Hülkenberg continua penando em seu aprendizado sendo mais lento e até ultrapassado na pista pelo seu parceiro, o veterano Rubens Barrichello. A Williams considera seriamente a substituição dos motores “impotentes” da Cosworth, que colocam a tradicional equipe britânica muito mais próxima das nanicas do que das grandes.
O GP otomano poderia ter servido como a afirmação da supremacia dos carros da Red Bull, que mesmo seguidos de perto desde a classificação pela McLaren, tinha uma dobradinha encaminhando para consolidar suas posições nos dois mundiais. Até que seus pilotos chutaram o pau da barraca. Isso mesmo, OS DOIS PILOTOS. Tome-se aí as proporções. Posição diametralmente oposta à das vozes oficiais da F1 no Brasil, que teimam em responsabilizar exclusivamente ao “bom porém ‘inexperiente'” Sebastian Vettel.
Algo bizarro acontece naquela cabine, de onde não se enxerga o que é Sebastian Vettel. Só para recapitular: o ‘inexperiente’ com 23 anos incompletos venceu uma corrida em sua primeira temporada completa – na equipe que até dois anos antes, se chamava Minardi – e foi vice-campeão em seu segundo ano, por outra equipe que aprendeu o caminho da vitória pelas mãos dele. Só isso. Do meu sofá, parece mais que não querem ver um piloto como ele ser campeão em uma idade em que o “único, inesquecível, inoxidável e patriota” Ayrton Senna sequer havia chegado à Fórmula 1. (Obs: os tempos eram outros, não cabe a comparação e tampouco procede esse ‘medinho’ de que se desfaça a memória do falecido. Não vejo outra razão para tanta desfaçatez com o alemãozinho.)
Vettel errou por ter sido otimista demais. Ele era mais rápido e poderia ter ultrapassado em outra ocasião. E foi castigado ao cair para a quinta posição do campeonato. Mas peralá, não se deve esperar que seu próprio parceiro faça o que o dele fez.
Já Mark Webber… O autraliano deve ler a cartilha que a própria McLaren usou na corrida: companheiros de equipe podem disputar posição, mas pelamordedeus, você não força a ponto de provocar um acidente com seu companheiro!!!! Afinal, os dois têm o mesmo chefe, que em geral não quer saber se o pato é macho; ele quer é ver ovo. Com essa atitude, o piloto relembrou os tempos em que esta mesma coluna o chamava de “Mark(eting) Webber” que f
azia tudo para levar a disputa com os parceiros de equipe para dentro dos boxes, com direito a guerrinha de fofocas declarações daninhas direcionadas ao carro do lado. Agora, ele quer dar uma de “psicólogo” e “conversar” com o “adolescente” Vettel, e assim tentar minar um piloto mais talentoso e completo do que ele.
Engraçado foi o Galvão, nessa altura, defender a prática antidesportiva ferrarista que praticamente impede uma ultrapassagem entre seus pilotos. Enquanto um certo Barrichello andava por lá, o discurso era diferente.
A moral da história é que a McLaren – que permitiu disputa entre seus carros e mesmo assim ganhou uma dobradinha que caiu no colo – aprende que o grande touro vermelho pode não ser um bicho tão feio assim. O time das latinhas tem lá seus pontos fracos.
A Red Bull, equipe tradicionalmente despojada e bem-humorada, vai ter que aprender a realidade das equipes que protagonizam o esporte. Podar declarações, esconder crises que todo mundo vê… Ser grande tem dessas coisas.
Para não dizer que foi tudo ruim também, deve-se ressaltar a grande vitória de Lewis Hamilton. O showman 2010 da categoria demonstrou a mesma impetuosidade das últimas corridas para chegar à sua primeira vitória na temporada. Ele foi o quinto piloto a vencer no ano, o que demonstra que a clara superioridade técnica da Red Bull não está se convertendo em domínio. Recordando 2009, foi com suas seis vitórias em sete corridas que Jenson Button assegurou seu título. Aí residiu todo o mérito para que ostentasse o número 1: ter sido absolutamente perfeito enquanto a eficiência de seu difusor traseiro era maior do que a dos outros, pois uma vez estabelecido um maior equilíbrio entre as equipes, sua vantagem já era irreversível como se provou no final.
O carro todo branquinho de 2010, a Sauber, finalmente marcou seu primeiro pontinho no ano. Graças a Kamui Kobayashi. Não é nada para se gabar, mas pelo menos os helvéticos deixaram a incômoda situação de estarem empatados com as três equipes do limbo.
Agora, a Fórmula 1 vai se misturar com a Copa do Mundo dia 13 no Canadá. Seja o que Deus quiser.