Coloquem-se no lugar de fiscalização.
Pensem em como verificar um cambista que entra na fila, compra sua cota de ingressos e volta para o final dessa a fim de comprar mais, e assim procede até o fim da venda de ingressos.
Sejamos um pouco mais sofisticados, e pensemos em uma descentralização da compra nas filas. Imagine que este cambista coloque vários bagrinhos para comprar para ele.
Mesmo a segunda situação é complicada de se fiscalizar.
É complicada, porém não impossível. Não tem como fazer de uma vez, mas pode-se até descobrir, acompanhar, espionar e pegar com a boca na botija.
Só que dessa forma artesanal, é até desnecessário e caro que tal operação de fiscalização seja feita. O cambista passaria a ser um ruído da venda. Com porcentagens insignificantes, como era há não muito tempo atrás.
Há não muito tempo atrás, por mais chato que fosse, chegava-se em uma fila, ficava um bom par de horas e comprava-se ingressos. Nem mesmo acabar em um dia acabavam, muito menos em uma hora.
Naturalmente, quem deixava para o dia do jogo, acaba indo para a frente do Maracanã morrer nas mãos dos cambistas.
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Só que a coisa se sofisticou. Hoje em dia o cambista não tem mais de “concorrer” com o torcedor comum* na fila. O ruído não é mais o cambista. O ruído virou o torcedor na fila.
O cambista já sai do Maracanã com seus ingressos na mãozinha. E não são poucos.
E pelo fato de não serem poucos, aquela fiscalização que seria cara para pegar um simples ruído, possivelmente menos de 1% (chute de ordem de grandeza), faz-se (ou deveria ser feita) agora totalmente necessária, uma vez que simplesmente esse ruído colocou por terra todo o sistema de vendas de ingresso.
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MEMÓRIA DE CÁLCULO
Para termos idéia, seria interessante ter a Ordem de Grandeza, utilizarei a conta expedita feita na CBN que para serem vendidos todos os ingressos na velocidade que foram vendidos, cada vendedor teria de ter atendido 28 torcedores por minuto! (não sei os parâmetros para a conta. Tem de ser quantidade de ingressos, tempo total de venda, cota de ingressos por torcedor e número de vendedores).
Pelas incertezas que podem estar inclusas nos parâmetros adotados, vou minorar esse número para 20 torcedores por minuto.
Por outro lado, vamos estipular um tempo aceitável para atendimento a um torcedor na prática, levando em conta a balbúrdia.
– O cara mete a cara com a grana certa na boca do caixa e pede dois ingressos. (5 segundos)
– O vendedor pega o dinheiro, conta, pega os ingressos do setor escolhido e entrega ( 8 segundos)
– Torcedor recebe os ingressos, coloca no bolso e vaza (2 segundos)
Sendo assim, em um processo ideal, o torcedor levaria para comprar 2 ingressos no mínimo 15 segundos. O tempo tende a aumentar com fatores como: troco, pegar o dinheiro na carteira, carteirinha de estudante (hahahahaha), compra de 1 ingresso apenas, tumulto, etc.
De qualquer forma, usamos na nossa conta o atendimento “The Flash” de 15 segundos por torcedor. O que leva a na melhor das hipóteses, 4 torcedores por minuto.
Confrontando o cálculo do que ocorreu, com o cálculo da eficiência possível:
4 tpm/ 20tpm = 0,2
0,2 é o que ficou com torcedores de bilheteria. Para ficar mais impactante, apresento de forma inversa a estimativa, onde 80% dos ingressos ficaram nas mãos de cambistas.
A conta acima por mais aproximada que seja é ASSOMBROSA.
Se colocássemos um erro estapafúrdio e a quantidade fosse de 50% já seria de impressionar. Mesmo 30% que fosse.
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Um número superlativo como esse não deixa outra opção a não ser da desconfiança que todo mundo leva algum nessa. E não apenas os cambistas.
E se eu fosse propor uma investigação, o primeiro que investigaria seria o próprio clube.
Já iria à procura de um Caixa 2. Muitos clubes fazem malabarismos para esconder a grana de arrecadação dos jogos para que essas não sejam executadas pela Justiça para quitação de dívidas. Não acho impossível que nesse esquema, venda-se para um “cambista” pelo valor nominal de bilheteria (aliás, metade do valor nominal, vai como de estudante), e este repasse, sem comprovação, recibo, borderô ou coisa e tal, por um preço no mínimo duplicado (agora sim, o valor nominal) ou com ágio (que é o caso nesse jogo).
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ALÉM DE QUEM FAZ O ESQUEMA:
Por mais que tenhamos uma noção de onde direcionar, tudo escrito acima ainda fica no campo da especulação. A única certeza que tenho é que esquema existe, e que envolve mais que cambista entrando na fila para comprar ingresso e revender.
Só que vou colocar culpa em outras insituições.
A relevância do assunto é tão grande, que não é possível que não haja instituições públicas que possam atacar tal problema.
E também não é possível que a instituição não-governamental que tem o papel social de investigar e fiscalizar não o faça. Omita-se.
Onde anda a imprensa esportiva?
Falar do jogo, especular, comentar, acompanhar vai-e-vém de jogadores, qualquer um faz. Há dois anos o Blá blá Gol mostra isso.
Mas cadê a merda da imprensa profissional para averiguar, esclarecer e mostrar o que de fato ocorre?
É Robínson, estamos completamente desamparados.
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Caso haja alma bem-intencionada que possa por profissão tomar alguma atitude e queira alguma ajuda, não se acanhe em entrar em contato. Privacidade 100%.
*cada vez mais tenho a impressão quando leio torcedor comum, é que deveria estar escrito torcedor babaca.