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Um texto do Joelmir Beting

November 29th, 2012 por | Categorias: Futebol.

O comentarista de economia morreu nessa madrugada. Criador da expressão “gol de placa”, Beting começou como repórter esportivo mas “deixou a área esportiva quando sua paixão pelo Palmeiras falou mais alto na transmissão de um Derby Paulista pela Rádio Panamericana e quase foi agredido pela torcida corintiana

Bancada do Jornal da Band

Segue em SEGUNDA MÃO sua apreensiva coluna de 27/06/2002, às vésperas da final da Copa, quando ainda escrevia no jornal O Globo.

Hiato de futebol

Diria Simonsen: no futebol, tal como na economia, tudo o que não é óbvio só pode ser besteira. Na rota do penta, o Brasil de Felipão repete o Brasil de Parreira ou o Brasil de Zagallo: não joga tudo o que sabe, pode e deve jogar. A qualquer jogo, deixa-se nivelar pelo adversário. Haja Isordil.

No futebol, tal como na economia, o Brasil padece de uma tibieza crônica: a do chamado “hiato de produto”. Na bola ou no bolso, hiato de produto negativo.

Que bicho é esse? Hiato de produto é a medida utilizada pela econometria para avaliar o grau de desvio do PIB da bitola do verdadeiro potencial econômico de um país (ou de um setor ou até mesmo de uma empresa). Se produto trafegando acima do potencial aparente, dá-se-lhe o rótulo de hiato de produto positivo. Se resfolegando abaixo do potencial, é hiato de produto negativo. Ou, como preferem alguns, hiato negativo de produto.

A propósito, a OCDE, entidade global dos 31 países mais desenvolvidos (ou nem tanto, quando se dá carona à Grécia, ao México, à Rússia e à Islândia), revelou esta semana que é do Japão, neste primeiro semestre de 2002, a medalha de chumbo do maior hiato de produto negativo: -3,1%. Ou da Irlanda o maior hiato de produto positivo: +1,8%. O hiato made in USA é de -1 1%. O da Eurolândia, em bloco, vai de -1,6%.

E o do Brasil? Não estamos na contabilidade da OCDE. Nem a China ou a Argentina. Nossa percepção epidérmica é de que o hiato de produto aqui no Brasil deve estar com negativo da ordem de 10% ou mais do nosso PIB potencial. Este, de resto, não mensurável, tamanho o desvão da informalidade e da sonegação.

E qual seria o hiato de futebol negativo do Brasil? Nossa chutometria estima que estamos na Copa acionando pouco mais da metade do nosso potencial. O que nos permite dizer, com jactância ufanista, que temos potencial de sobra para deitar a beleza pelo ralo sem tirar a mão do tetra e já agora do quase penta, com viés de hexa.

Ou como já foi dito aqui: para um potencial 10, temos condição de ganhar mais uma Copa suada jogando 6 ou 5. Pois no domingo, pela primeira vez em 72 anos de Copa, o Brasil pega pela frente uma Alemanha que não perde a mania de jogar 13 ou 15 de produto para o índice 10 de seu discreto potencial ludopédico.

Disputar final de Copa com hiato de produto negativo de 5 contra hiato de produto positivo de 5 é simplesmente apelar para o heroísmo de chuteiras prateadas e para o sufoco cívico de 174,4 milhões de patrícios embandeirados — por obra e graça de uma repressão tática que subtrai a técnica e atrofia o talento.

Sim, dá para deitar as mãos de Marcos e os pés de Ronaldo no penta. Mas o apito final, a exemplo de 1994, será mais de alívio que de alegria. Uma pena.

CARTOLAGEM: A escandalosa margem de desperdício do futebol brasileiro tem sua raiz ou sua matriz na cartolagem despreparada e, não raro, desonesta. Cuja incompetência ou cuja impunidade tem a ver exatamente com a absolvição de um hiato de produto negativo ainda não suficiente para destroçar de vez o que sabemos fazer com a bola dentro do pasto ralo que eles chamam de gramado.

REVIRAVOLTA? Dizem os marqueteiros da bola, negócio de US$ 260 bilhões ao redor do mundo, que o crachá de penta deve acelerar no Brasil o parto de montanha legiscrativo do Futebol S.A. Reforma institucional ou regulatória que tem como exposição de motivos uma CPI do escandalômetro operado por cartolas, parceiros, atravessadores, clubes, entidades e sonegadores.

OU SERÁ QUE NÃO? Pois consultores da área sustentam o contrário: se o scratch entesourar o penta, a moralização por decreto do futebol brasileiro tende a sair para o acostamento da MP n 39 de junho.

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6 Comentários para “Um texto do Joelmir Beting”

  1. Serginho Valente
    30/11/12 - 5:09

    Porra, eu gostava do sujeito. Ele e o Boechat faziam um belo jornal.

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    Bender

    [2]

    Jornal da Globo > Jornal da Band > Jornal do SBT > Bom Dia Brasil > Jornal Nacional

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    Victor

    Jornal Nacional em dia de Renata Vasconcellos > Infinito

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    Bender

    Ela está diariamente no Bom Dia Brasil. Sábado não costumo ver telejornais.

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    Bender

    Renata Vasconcellos > Ticiana Villas Boas > Patrícia Poeta

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  2. Bender
    30/11/12 - 11:22

    Nessa época (início dos anos 2000) o site do Globo era simplesmente o jornal O Globo impresso na internet sem as fotos do jornal (às vezes tinha as principais imagens).
    Vc acessava o mesmo texto do jornal impresso (como se fosse num formato do Bloco de Notas) e podia inclusive mandar um Ctrl C e salvar qq texto no Word. Eu fazia isso com as colunas do Joelmir para usar em trabalhos da Faculdade. Com o tempo ia excluindo umas pra liberar espaço (hd de 1 GB) mas algumas guardei, como essa do Hiato de Futebol. Quando saiu do Globo e entrou Miriam Leitão, perdi esse hábito.

    Mas pouco tempo depois descobri seu blog com textos menores que os das antigas colunas, o que achei melhor. Eu sou um dos seus “mais de 3 mil seguidores cadastrados“. Como não irei mais receber seus textos, de certa forma, sua morte altera minha rotina.

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