Eu gosto de Maicon.
Não sei se por antítese à dupla Fred/Liminar Amaral no Fluminense ou pelo potencial dele em si. Acredito até mais na primeira hipótese. O que importa é que gosto de Maicon e assim sendo, torci um pouco mais para ele na Seleção sub-20.
Torci e cornetava a sua entrada no jogo final contra Gana. Talvez isso tenha ampliado minha frustação ao ver a cara de desespero do jogador antes da sua cobrança de penalty.
Eu não tive dúvidas em comentar antes da cobrança que o jogador se borrava:
Maicon tá se cagando todo e o Neto dizendo que tá tranquilo
Ato seguinte foi o atacante chutar a bola nas Pirâmides de Gizé.
Por fim seguiram-se as chacotas sobre o vice com o time enfestados de vascaínos, reclamações como se tal derrota representasse um modelo de jogo fracassado do futebol brasileiro, além da preocupação em se ter um técnico sem nome forte no comando de divisões inferiores.
Maicon inconsolável
Curiosamente, no meio de todas essas bobagens, o penalty bizonho de Maicon passou despercebido.
Não sei qual é a fórmula do sucesso para divisões de base de Seleções, mas creio que em outros países também não se sabe, uma vez que o Brasil é o maior vencedor de Copas do Mundo com seus 5 títulos. Além do que, o Brasil está nas cabeças pelos últimos 15 anos.
Dois títulos mundiais ao menos (1994 e 2002) foram recheados com jogadores com ampla experiência em seleções de base. Seleções essa que sempre contaram com técnicos de pouca expressividade nas categorias principais em clubes, como o caso de Rogério Lourenço, o Capitão Furacão (TM Januário de Oliveira).
Se uma coisa é importante nesse trabalho, mais que ganhar o título, seria a simples anotação em um relatório da forma com que Maicon perdeu seu penalty. Simples assim.
CBF e Fluminense Football Club, além de clubes interessados no jogador deveriam ter isso em um post-it que seja. Ainda que em categoria de base, vale que Maicon tremeu.
Não é para se crucificar o jogador, mas para observar 3 coisas que podem acontecer:
- O jogador pode ter propensão para sentir momentos pontuais decisivos. Não que isso o desabone a ser um grande jogador e profissional, mas pode ser útil que em uma equipe com 11 jogadores, outros chamem a responsabilidade
- Bobagem. Maicon é novo e pode mostrar que isso aconteceu ali, pronto e acabou. De qualquer forma, cabe observação.
- Maicon de fato sente momentos decisivos, mas isso pode ser trabalhado. Afinal, há especialistas na parte mental de pessoas e atletas. Característica fundamental para bom desempenho em qualquer atividade. Pode ser até mesmo que o penalty tenha evidenciado isto e acelere um acompanhamento especial no jogador, o que seria de enorme valia.
As comissões técnicas de divisões de base de Seleção tem muito mais o que observar e introduzir a cultura de Seleção Brasileira aos futuros jogadores de ponta que propriamente treiná-los e ganhar os campeonatos.
Naturalmente que pelo potencial brasileiro, dispute-se os títulos, e é bom que esses jogadores sintam o peso da conquista ou da derrota. É importante que flertem com a vitória e entendam que a Seleção Brasileira de Futebol é conhecida, respeitada e temida por ser vencedora.
Ao ver o time sendo derrotado nos penalties com Alan Kardec desabando no choro com a perda da cobrança de Maicon, fica a sensação de parte do dever cumprida, porque antes de mais nada, o garoto deve ter tesão em defender a Seleção e ter apreço pela vitória.
Não cabe a nós o ufanismo barato ou a exaltação pura e simplesmente de um trabalho bem feito, mas cabe identificar e entender o que vimos.
Cabe, ou caberia, porque eu acredito que o explicado acima seja feito por quem está trabalhando com as vencedoras categorias de base brasileiras. Sò não creio que a crítica, e consequentemente torcida, aproveite mais essa chance.
Anote também que durante essa fase de testes, Maicon sentiu a pressão. Talvez, com essa informação bem assimilada, uma torcida possa impedir que ele assuma uma responsabilidade que não está preparado, ao invés de tratá-lo como herói e ver um título ir por água abaixo (ou baliza acima).
****
Cabe ressaltar que brincadeiras à parte, os jogadores do Vasco Alan Kardec e Alex Teixeira, o próprio Maicon e Ganso buscaram jogo. Errando, acertando, jogando mal alguns, mas foram atrás da bola.
Giuliano, porém, camisa 10, nem apareceu em campo na final. É outra coisa a se anotar no post-it do Capitão Furacão.