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‘94- ‘09: 15 anos sem Senna (+1 dia sem Ratzenberger)

May 2nd, 2009 | 17 Comments | Filed in Fórmula-1

O dia do trabalho do ano de 1994 terminou como uma das páginas mais negras da história do automobilismo. O GP da República de San Marino, realizado em Imola, na Itália, iniciou-se na sexta-feira com um acidente pavoroso. O então jovem promissor Rubens Barrichello atingiu uma zebra e voou com seu Jordan, atingindo o alambrado acima da barreira de pneus. O brasileiro ficou afastado das atividades do fim de semana, e de casa, assistiu a tragédia que se sucedeu. Seu susto já fora na verdade um mau presságio.

Por algum motivo, eu não assisti ao treino classificatório no sábado. Porém, passando por uma TV ligada em uma loja de conveniências, vi imagens recuperadas de um daqueles carros curiosos com o patrocínio da MTV se arrebentar contra o muro da curva Villeneuve. Logo em seguida, Senna – em sua autoridade de representante dos pilotos – caminhava inquietamente pelo paddock até entrar em um carro da organização e ser conduzido até o local do acidente. Como a TV estava sem som, só fui saber de toda a história mais tarde.

Baby Ratzenberger

Baby Ratzenberger

Naquele carro estava Roland Ratzenberger, austríaco, um cara que era só felicidade por estar realizando seu sonho de estrear na F1 naquele ano, mesmo sendo na cadeirinha elétrica da Simtek. Após um 11º lugar no GP do Pacífico, ele se sentia confiante para classificar seu carro em Imola. E não era uma pequena saída de pista que iria fazê-lo esmorecer. Reza a lenda de que a sua equipe o teria orientado para voltar aos boxes a fim de checar a segurança do carro. Ele partiu para mais uma voltinha a mais, a sua derradeira. A asa dianteira se desintegrou a mais de 300 km/h e nada mais pôde ser feito. Roland tinha 33 anos. Tinha brigado com o pai para seguir a carreira de piloto, e na época do acidente, a lenda também diz que eles se reaproximavam. Ele investiu todo o dinheiro que ganhara correndo no Japão para realizar seu sonho na F1. Seu corpo não resistiu à fragilidade do chassi Simtek, que mostrou através de um rasgo na estrutura o braço pendente e sem vida do piloto austríaco. E sua morte, trágica e precoce, ainda seria eclipsada por outra, ainda mais imponderável e irreal.

Há exatos doze anos não aconteciam mortes em finais de semana de GP, desde as perdas de Gilles Villeneuve e Ricardo Paletti na temporada de 1982, respectivamente na Bélgica e no Canadá. Somente em 1986, durante testes privados da Brabham na França, o simpaticíssimo e italianíssimo Elio de Angelis perdeu a vida. Oito anos e algumas medidas de segurança depois, os deuses da velocidade voltariam a cobrar um alto preço daqueles que, com o tempo, se esqueceram do real risco que estavam expostos aqueles caras, que se vestem como astronautas e vivem em um mundo paralelo onde frações de segundo determinam a diferença entre vencedor e fracassado, e um detalhe milimétrico pode decretar fim a uma corrida, carreira, ou mesmo à própria vida.

No domingo, não acordei como de costume em cima da hora da largada. Queria saber as repercussões do acidente do dia anterior pelos comentários do Reginaldo Leme. A corrida tinha inevitavelmente um clima de velório, e a sensação era de que todos pediam para que a corrida simplesmente acabasse logo e todos pudessem ir para casa. A atmosfera estava pesada demais para qualquer tipo de competição. Sinal verde, e logo ocorre um acidente. Pedro Lamy e J.J. Letho se encontraram em seguida da largada e os destroços de seus carros voam para a arquibancada, ferindo alguns espectadores. A bandeira amarela intensifica a tensão, mas ninguém imagina o que se sucederia.

Senna boy

Senna boy

Senna não estava na situação tranquila que ele imaginara ao se juntar a Frank Williams. Tinha problemas sérios para se ajustar ao nervoso FW16. E sua apreensão aumentara muito devido aos acidentes ocorridos nos dois últimos dias. Tendo abandonado os GPs do Brasil – com uma rodada que se fosse do Barrichello… – e do Pacífico, o tricampeão via brotar o talento de Michael Schumacher como a grande ameaça aos seus planos que visavam ao tetracampeonato. Efetivamente, o alemão escoltou o brasileiro durante a bandeira amarela e o perseguiu na relargada, até que veio a Tamburello e só Schumacher seguiu em frente. Bandeira vermelha. Fiscais atônitos. Pela TV, Galvão Bueno até tentou não se antecipar nas conclusões, a despeito da brutalidade das imagens. A vida de Ayrton Senna tinha terminado ali mesmo, ao vivo numa manhã de domingo. Pela primeira vez, um campeão morria durante um GP de Fórmula 1.

Reiniciada a corrida que ninguém queria mais correr, a bruxa continuava solta. Ainda dentro do pitlane, uma roda se solta da Minardi de Michele Alboreto e vai, quicando, saindo dos boxes e atravessando o fim da reta dos boxes, com sérios riscos de atingir outros carros. Desta vez, foram alguns mecânicos para o posto médico.

Após a corrida, Schumacher chegou a sua terceira vitória em três corridas naquele ano, mas sem nada a comemorar. Veio a confirmação da morte do piloto brasileiro. Ele tinha 34 anos.

Soube-se depois que Senna levava no bolso do macacão uma bandeira da Áustria. Em caso de vitória, ele homenagearia seu colega menos famoso, sem saber que a sua sorte seria a mesma.

Dois pilotos, duas histórias completamente diversas e um mesmo destino trágico. Outros fins de semana como esse nunca mais aconteceram. As lições aprendidas ao custo de duas vidas tornaram a F1 muito mais segura, nos carros e pistas, além de procedimentos de resgate mais eficientes. Há quinze anos os pilotos estão livres desta nuvem negra, mas todos eles sabem que o perigo está sempre à espreita na profissão que escolheram.

Fica a homenagem aos dois seres humanos, Roland e Ayrton.

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