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Posts Tagged ‘Rafael Sperafico’

Impacto

December 11th, 2007 | 10 Comments | Filed in Uncategorized

O mundo da StockCar brasileira viu uma página muito negra em Interlagos no último fim de semana. Num acidente com cenas dignas do filme “Faces da Morte”, o jovem piloto Rafael Sperafico perdeu sua vida aos 27 anos no encerramento da Stock Light e acendeu a luz vermelha para os organizadores, agora mais preocupados com a segurança oferecida aos pilotos, tanto no carro quanto na pista.

Uma seqüência trágica de de fatos levou ao ocorrido. Infelizmente, a posição vulnerável em que o piloto se encontrou no instante da batida é o maior dos pesadelos em qualquer tipo de carro, seja monoposto, turismo ou nos nossos carros de rua. Num acidente semelhante na Indy, Alessandro Zanardi por muito pouco não foi conhecer Elvis, e ter as duas pernas amputadas foi até bom negócio. Naquele ângulo e na velocidade em que ocorreram os impactos, não há engenharia que consiga proteger o ocupante do veículo.

O ponto da pista em questão é a Curva do Café. Pessoalmente, nunca tinha ouvido falar no termo “a Tamburello de Interlagos”, mas o fato é que o histórico de acidentes nessa curva é extenso. Feita em subida e de pé embaixo, ela não passa de um ligeiro desvio para a esquerda indo desembocar na reta dos boxes. Até a F1 já prendeu a respiração quando em 2003 (aquela corrida da pane-seca da Ferrari do Barrichello) Mark(eting) Webber bateu nesse ponto e espalhou frangalhos de seu Jaguar pelo asfalto. Fernando Alonso, à toda, achou um pneu perdido no caminho e saiu rodando, batendo com muita força em ambos os lados da pista. Deu muita sorte, coisa que o Sperafico não teve. A vilã em ambos os casos foi a mesma: a barreira de pneus. Dita pelos pilotos mais experientes, como Ingo Hoffman e Luciano Burti. Culpabilidade controversa sim, pois em muitos acidentes ela salva a vida dos pilotos. Mas especificamente no Café, ela simplesmente ricocheteia o carro de volta à pista, restando ao piloto apenas torcer para que o pior não aconteça.

Mesmo sabendo que não há estrutura tubular que ofereça segurança contra um petardo de uma tonelada vindo a duzentos quilômetros por hora, a gaiola da Stock merece uma revisão séria. Criado pelo projetista argentino Edgardo Fernandez em 1999 e construído pela empresa de Zeca Giafonne, o chassi utilizado tanto na Stock V8 quanto na Light não sofreu revisão significativa em sua parte de segurança. Além de ser ridículo, desportivamente falando, pela péssima visibilidade ocasionada pela posição do piloto (eles guiam quase como se estivessem sentados no banco de trás). O milagre do Gualter Salles sair praticamente ileso de um acidente na corrida da Argentina no ano passado passou a idéia de que era bastante seguro, mas a forma como os Stocks simplesmente esfarelam nas colisões mais fortes é algo a ser pensado com mais seriedade. E nesse quesito, ainda há muito para a categoria aprender com a Nascar americana.

No final das contas, o bolo da responsabilidade deve ser repartido também com a organização das provas e PRINCIPALMENTE, com os próprios PILOTOS. Há muito tempo a Stock tolera uma quantidade insuportável para quem vê, e irresponsável para quem faz, de toquinhos, totozinhos, fechadinhas e coisas do gênero. Em raríssimas ocasiões um piloto chega ao fim da corrida sem a cor dos adversários na sua carenagem, esta ainda mais raro de escapar inteira. E nesse quesito, há muito o que “desaprender” em relação à Nascar americana. A conseqüência disso é larga. Pilotos que fazem uma corrida irrepreensível, que lá pelas tantas tomam um “chega pra lá” de algum barbeiro (que pode até ser retardatário) e estacionam na brita. Pilotos chorões, que gostam muito de “intimidar” os adversários, mas quando provam o próprio veneno, se sentem injustiçados. Várias entradas de Safety Car. Batidas, batidas, e mais batidas.

Automobilismo é coisa séria e perigosa, e não pode virar brinquedinho de bate-bate de milionários e filhos de empresários. Quem sabe por ter um teto sobre suas cabeças, os pilotos mais irresponsáveis podem pensar que não há mal algum em colocar seu rival para fora da pista. Mas não é bem assim que a banda toca. A segurança de todos eles é muito frágil e se eles não colaboram, é o pescoço deles mesmos que está na berlinda. Tolerância zero ao toquinho. Menos toquinhos, menos batidas, menor risco e maior espetáculo. E menos dor, para Milton, Dilso, Elói, Fabiano, Guilherme, Alexandre e os gêmeos Rodrigo e Ricardo, toda família Sperafico, nas pistas do Brasil e do mundo. Na pista não se pode dar sopa ao azar. Uma vez naquela situação, é muito difícil de sobreviver, e todo piloto deve estar consciente disso.

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