Caros héteros alfas, tomem cuidado com as artimanhas dessas fêmeas dissimuladas. Elas não terão pudores em usar o que é caro a vós para iludir-vos.

Hoje, um domingo comum de futebol, o dia começou aparentemente como os outros. Porém, a ardilosa aqui de casa enrolou para levantar forçando um café da manhã tardio.

Ô... programão...

Inventou uma montagem de árvore de Natal, evento que invariavelmente consta de minha pessoa bebendo cerveja. O detalhe que no momento passou despercebido, fora a insistência para que bebessemos cerveja mais incorpada. Ok.

Com o café da manhã tardio e a árvore de Natal, veio um: “vamos pedir almoço”. Resignado, aceitei já com a desilução de trocar minha carne de domingo por alguma salada ou massa leve que fêmeas gostam de pedir nesses restaurantes de pouca comida. Para meu INGÊNUO espanto, a pedida veio de um restaurante meia-boca daqueles que vem comida à rodo, daquelas que se come com gosto: “Frango à Parmegiana” cheio de purê de batatas e arroz.

Mermão, destrocei enquanto a víbora cinicamente pegava um pequeno pedaço repetindo o mantra: “come o resto para não termos de guardar só esse pouquinho”. Com todo o prazer glutão, acatei. Senti-me um rei medieval enchendo a pança sem culpa e detonando cerveja européia em canecão foda.

Tudo muito bom, tudo muito bonito porém…

16:05 – pouco menos de 1 hora para o início do jogo. Sofá convidativo. Ventilador ligado. Cooler com 12 latinhas bem geladas e este que vos escreve bojado e a ludibriadora toda emperequetada de Vasco faz a pergunta:

“E aí… vamos para o bar ver o Fluminense ou ficamos aqui para ver o Vasco?”

Pontos Corridos, eu te odeio!

Que Borges comemore a artilharia

Quem acompanar o jogo do Flu, por favor emanar palavrões a Abel por escalar atacantes e meias. O Tricolor deveria entrar com 11 volantes e focar apenas em 0x0. Esse é o resultado.

37 rodadas de Abel querendo mostrar ofensividade já foram suficientes para agradar Douglas, Nardoni, Calazans, Rica Perrone, Robinson e até o viadão gordo do Jô Soares. O técnico já vai arrancar alguns votos para melhor do Brasileirão e será elogiado por Paulo Cesar Vasconcellos no Bem, Amigos que constatará ter o Tricolor um dos ataques mais positivos mas que não conseguiu ser campeão porque perdeu muitos pontos, como aquele leitor que está tirando uma meleca enquanto mexe no mouse pode perceber.

A 38ª rodada, porém, Abel, é do Fluminense. Empateie com o Botafogo e pule de fase na Libertadores. 0x0 é o resultado. Que Borges artilherie o Brasileirão 2011.

Para quem devem torcer os tricolores nesse domingo

André Lofredo enfatizou na transmissão de Fluminense 4×0 Ceará a importância do Tricolor buscar regularidade para sonhar em campeonar e já incorporou o maneirismo na mídia tricolor (e a cumpridora de tabela) como se o Fluminense não estivesse apresentando grande regularidade ganhando e perdendo alternadamente.

Tendo pouca vivência de Pontos Corridos, acreditei. Contudo, corri atrás de entender o conceito para não propalar bobagens e discordei.

Rali ou futebol?

Passei a vista nas tabelas dos últimos campeonatos brasileiros e não encontrei relação estrita entre regularidade e título. Pelo contrário, até rebaixado achei como América de Natal de 2007.

Para aumentar meu universo de amostras, recorri a tabelas de Pontos Corridos dos regionais europeus e acabei por encontrar uma relação bem mais forte no que tange ao propósito de campeonar: Em quase todas as amostras, o time que soma mais pontos ganha o campeonato.

Recomendo que as equipes priorizem somar pontos pois o que vale é o contabilizado após a rodada 38. Ter regularidade não põe a mesa.

8 anos de campeonatos de pontos corridos e poucas imagens marcantes.

Não na minha ótica, que tenho capacidade de observação limitadíssima, mas sim do único canal que tem a primazia de transmistir TODOS os jogos e detentor dos direitos de todas as imagens.

Os proselitistas dos Pontos Corridos diziam que era questão de tempo para o modelo ser um sucesso. Pela sua simplicidade¹ o torcedor começaria a entender e sacar a importância de cada jogo ao decorrer da competição. No proselitismo Corridista, cada jogo que seria uma final.

Como estes proselitistas embasam-se apenas de deduções lógicas e são pouco afeitos a palavras como empirismo, mensuração e laboratório, ficam à mercê dos acontecimentos, e são obrigados à omissão ou desvios de raciocínio para manter a banca do peixe que vendem aberta.

Desta forma, os Corridistas entendem que na situação ideal, os torcedores apoiarão seu time de coração por 38 rodadas, ao mesmo tempo que ficam de olho em outras 9 decisões a cada rodada. O milagre da multiplicação da atenção e tensão.  A rave do futebol.

Saulo Kfoury e Paixão Calçade debatem a rodada

Os Racionais Corridistas por não entrarem em um laboratório e ignorarem que a observação é um dever de quem modela, cagam para fenômenos aparentemente extemporâneos com a súbita redução de público por parte de um time.

Botafogo e Cruzeiro jogaram em um sábado no Engenhão para 14.128 pagantes, renda de R$305.080,00 e preço médio de R$21,59. Todos valores aquém aos obtidos na disputa do mesmo Botafogo em um outro sábado contra o Avaí.

O torcedor botafoguense pode ter de fato entendido o campeonato, só que da forma real, e não como convém aos Corridistas. Em tempos de indefinição de qual tendência seu time tomará, o botafoguense prefira aguardar uma reta final onde o Glorioso pode estar brigando pelo título, uma vaga na Libertadores ou ter sucumbido em decepção.

Meu palpite para explicar esses fenômenos levam em conta o ânimo e o estado de espírito da torcida com a forma da equipe, não necessariamente sua posição e real ambição. A ambição que vale para a torcida é momentânea, o que produzeria na melhor das hipóteses, diversos micro-campeonatos dando importâncias diferentes para cada jogo. Minha observação nesses anos com olhar crítico, frequentando estádios, tendo ou não vontade de acompanhar meu próprio time em posições distintas na tabela, engalfinhando-me em discussões, conversando com torcedores de outros times e medindo o interesse do público ao longo das competições através de dados de público e renda me levam a pensar desta forma para explicar este fenômeno.

Só não faço ideia de como os Corridistas explicariam.

Ah sim… não vale colocar a culpa na amostra que no fim das contas é objeto de estudo, e não comprovação de raciocínios obtusos. O argumento que “a torcida decepcionou” não está valendo, ok?

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¹ Corridistas não devem ter mãe, ou as mães deles já desistiram há muito de tentar entender como é que pode ser simples que um time seja campeão antes do fim do campeonato, e como diabos não há um jogo final para definir o campeão.

Não é de hoje que simpatizo com a idéia de um campeonato brasileiro por pontos corridos nos moldes como ocorre desde 2003.

Basicamente por motivos de organização e possibilidade de investimentos serem feitos com maior previsibilidade de metas e resultados.

Mas sempre que fala-se em Pontos Corridos pelo Brasil, invariavelmente o contra-ponto é o Mata-Mata. E enquetes pipocam com opções 8 ou 80: “Você prefere Pontos Corridos ou Mata-Mata?”

Pois bem, as duas coisas não são excludentes. E como acontece na Europa, há possibilidade das duas formas de disputas serem contempladas em um calendário.

E os Pontos Corridos garantem um orçamento regular, um mínimo para que os clubes se planejem. Garantia de jogos o ano todo e delimitação das forças de um País, além da possibilidade de se comparar evolução ou decadência de um clube.

Mas inegavelmente, é o Mata-Mata que chama a atenção. Que coloca um clube no foco de torcedores de outro, mesmo torcedores de outras regiões. O Mata-Mata é quem tem mais poder de arregimentar novos espectadores, mobilizar os não-iniciados.

Mulheres que gostam de futebol, mas não-fanáticas, são uma excelente fonte de observação.

Tive duas amostras deste poder hoje.

Sport e Fluminense jogavam pela 3ª rodada do Brasileirão e o jogo era transmitido para o Rio de Janeiro pela TV Globo. Ambos os times eram mistões, uma vez que teriam jogos decisivos, um pela Copa do Brasil e outro pela Libertadores no meio da semana. Fui para a academia e pedi para deixar o jogo rolando na TV.

Ana Paula estava comigo e perguntou:

Quem é SPT?

Depois de fazer brincadeiras com a sigla, respondi que se tratava do Sport. Ela levantou as orelhas dando mais atenção e indagou:

Ué? Então é o Vasco que está jogando?

Pouco depois, outra mulher se mostrou um tanto interessada pelo jogo. Olhou para a TV, ficou lá parada com cara de dúvida, até virar para perguntar (já estava 1×0 para o Sport):

É o Fluminense?

Sim

Se perder hoje, o que acontece?

Nada. Este é outro campeonato

Ah… não é a Libertadores, né? A Libertadores é quarta, né? É contra o argentino ?!

Isso.

Inegável, como esses exemplos comprovam, a força de marketing de um Mata-Mata. Não dá para abrir mão deles. Só não seja 8 ou 80. Nem todos precisam ser Mata-Matas. Já há garantia de emoção para o ano todo com alguns sendo.