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Batavo, Olympikus, BMG e Flamengo – Você é o que consome

March 17th, 2010 | 126 Comments | Filed in Flamengo

As últimas semanas tem nos brindado com noticiário sobre as aventuras e desventuras da trupe rubronegra pelas favelas do Rio de Janeiro. Diga-se de passagem, que não é nenhuma novidade, e ressalta-se que tal postura era vista pela sociedade de uma forma livre de preconceitos.

Em sua volta ao futebol brasileiro, Adriano não se escondeu para frequentar a Vila Cruzeiro e jamais foi criticado. Pelo contrário, sua forma desprendida de lidar com sua região de origem era exaltada e aplaudida tal qual Oswald Cobblepot retornando à Gotham.

O Imperador tinha em sua naturalidade encontrado a tal alegria que ele viera buscar ao voltar da Itália.

Adriano visitava a favela e decidia em campo, levando o Flamengo ao título de Campeão Brasileiro. Pelo caminho, alguns tropeços com faltas à treinos, queimaduras e um ou outro quiprocó, amplificados por ser quem era, mas justamente rechaçados como graves problemas. Pois Adriano faltava o treino e só. Seu nível era o mesmo, apesar dele não ser um funcionário padrão, como muitos dos que lêem essas linhas não o são.

Vagner Love chegou em 2010 e a dupla iniciou com sucesso o Império do Amor, de muita afinidades dentro e fora de campo. Vagner Love faz sensacional começo de carreira com a camisa do Flamengo alcançando marca expressiva de gols nos primeiros jogos e entrosado com a barulhenta trupe de jogadores do Flamengo afeitos às noitadas e bailes.

O prosaico caso da mulher de Adriano que subiu nas tamancas e colocou para quebrar na Chatuba deu uma leve explanada na rapaziada. Habilmente a diretoria do Flamengo tirou Adriano de cena dispensando-o da partida contra o Caracas na Venezuela e tudo entrou nos eixos sem maiores alardes e consequencias, onde Bruno saiu mais chamuscado por sua declaração de bater em mulher (e claro, porque tem histórico e falou com propriedade – aliás, bater em mulher deve fazer parte do treinamento da posição na Gávea).

Um pequeno bafafá sobre alcoolismo de Adriano ainda foi levantado mas bem rechaçado inclusive por José Luis Runco médico do clube e da Seleção. Convenhamos que a ligação entre o barraco de uma mulher ciumenta em um baile e alcoolismo é um tanto quanto fraca.

Mesmo com tais “contratempos” tudo ia bem. Afinal, como dito antes, eram episódios prosaicos, que inclusive caíam bem na figura de anti-herói competente que Adriano e sua turma simbolizavam. Aqueles que bebem, vão à festa, fazem orgia, pegam mulher, frequentam seus lugares de origem com despreendimento e resolvem no campo.

Até que…

…Até que o alardeado despreendimento dos atacantes rubronegros com seus amigos de infância começaram a ir de encontro com as convenções da sociedade carioca que aceita muito bem uma farra, mas tem um justo pânico em relação ao crime organizado associado especialmente ao tráfico de drogas. O Fantástico exibiu vídeo de Vagner Love com naturalidade sendo escoltado por bandidos armados ao ir em um baile funk na Rocinha e uma misteriosa moto envole uma senhora de 64 anos sem carteira de habilitação, mãe do chefe do tráfico do lugar, à Adriano.

Houve quem se posicionasse e o assunto caiu na boca do povo. Eu fui saber como ruído de um diálogo entre José Ilan, repórter da TV Globo e Léo Moura, lateral miguxo do Flamengo

Peguei uma carona na fonte e fui ver o que aperreava tanto o miguxo e me deparei com o artigo no tal site do Maranhão afiliado à Globo.com (TM José Ilan).

O autor, cujo estilo indica, deve ter motivações clubísticas contrárias ao Flamengo. Também do estilo, depreende-se que foi escrita à revelia da organização para quem escreve uma vez que foge inteiramente posicionar-se de forma tão veementemente contrária a um assunto querido de tantos clientes da mesma.

O artigo quando vi estava já editado (provavelmente por ordens de cima) mas ainda assim continha bobagens que serviram desviar-se do foco principal que era de uma clareza estonteante:

O Flamengo parece um antro de marginais…
por Marco D’Eca

O centro-avante Adriano é um cachaceiro marginal e descontrolado, protegido pela mídia flamenguista e financiada por quem quer vê-lo na Copa.
Wagner Love é marginal mesmo – no sentido social do termo – destes que participam de festas com traficantes e acham normal a convivência.
O goleiro Bruno se revela um marido brutamontes, agressor de mulher e farrista inveterado, com as declarações bisonhas que deu à mídia.
Além deles, vários jogadores rubro-negros participam de farras e bebedeiras antes, depois e até durante os jogos do Flamengo.
Nenhum outro time de futebol no Brasil abriga tanta gente desajustada quanto o Flamengo – marginais no sentido amplo da palavra, aqueles que vivem, por exclusão ou opção, à margem da sociedade organizada e civilizada.
Nenhum outro time registra tantos jogadores com problemas sociais quanto o Flamengo.
Este é o Flamengo, parece um antro de marginais.

(há uma besteirada sobre problemas de torcidas que não reproduzi aqui)

Os advogados da Nação voaram em cima do artigo, motivando o autor a escrever um novo artigo, ainda contundente, mas dessa vez absolutamente claro

As verdades sobre os jogadores do Flamengo doeram na alma
por Marco D’Eca

É impressionante como a sociedade tende a tolerar certos deslizes legais quando envolvem os seus iguais.
O texto abaixo, sobre os craques do Flamengo metidos com marginais é um exemplo disto.
Recorde nacional de comentários, o texto recebeu uma avalache de flamengusitas em defesa de Adriano e Vagner Love. E até este momento (15h30) há outros 592 para serem moderados.
O golerio Bruno, na verdade, nem vem ao caso, porque apenas deu uma declaração infeliz. Nada a ver também a crítica à presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, a quem se pede desculpas públicas.
Os termos usados contra eles também foram chulos, mas Adriano e Vagner Love cometeram crimes sim!
Pelo que Vagner Love fez, flagrado ao lado de traficantes perigosos com armamento pesado – depois admitido pelo próprio em entrevista – o cantor Belo passou anos na cadeia.
É no mínimo Associação para o Tráfico, mesmo crime de Adriano, conforme interpretação do que foi revelado em Veja.
Equivocadas as justificativas de torcedores flamenguistas, de que eles estavam apenas visitando as comunidades humildes de onde vieram.
Tanto Adriano quanto Love têm condições financeiras e força política para influenciar a vida de suas comunidades para melhor. E o combate ao tráfico é só uma destas ações obrigatórias.
Um homem público – seja ele político, jornalista, cantor ou jogador de futebol – não pode se dar ao luxo de envolver-se com bandidos.
Eles, os jogadores, têm dívidas com a sociedade, pois influenciam uma boa parte dela.
Estes bandidos com os quais Vagner Love acha normal ficar, ou aqueles a quem Adriano pediu para expulsarem sua namorada da Favela, são criminosos perigosos, que destroem a sociedade, ceifam vidas e acabam com as esperanças de parte da juventude.
Jogadores como Vagner Love ou Adriano – este último, inclusive, cotado para a Seleção Brasileira – não podem se divertir em farras com traficantes em um sábado e, no dia seguinte, serem tolerados pela direção dos seus clubes em jogos de futebol.
A imagem pública deles não condiz com o comportamento. E “passar a mão” em nome de um jogo de futebol é crime de lesa-pátria.
Se a torcida do Flamengo acha isso normal e até gosta, tudo bem – não se pode exigir muito dela.
Mas estes homens públicos devem satisfações ao restante da nação, que espera deles, no mínimo, comportamento respeitável.

(* onde lê-se, texto abaixo, é a citação anterior)

****

Os artigos acima na verdade são ilustrativos, não são eles que desejo discutir apesar de apresentarem de forma crua, direta e lúcida as questões para reflexão que seguem-se.

A sociedade carioca tem justificada paranóia no que se refere ao crime organizado do tráfico de drogas. Tal paranóia faz com que outras atividades ilícitas sejam imediatamente associadadas a ele, mesmo quando não há correlação plausível, gerando argumentação e repulsa por tal atividade com essa associação.

Um argumento banal para o combate à pirataria é que ao comprar-se um DVD pirata, o comprador financia o tráfico de drogas (eu não consigo ver o porquê um sujeito iria ficar o dia inteiro no Centro da cidade vendendo DVD’s piratas para depois financiar o tráfico). Mas não importa se financia ou não, e sim que é visto como.

Tal associação, faz com que o carioca tenha de criar subterfúgios morais para comprar tais produtos e dormir tranquilo.

Adriano e Vagner Love vem sendo investigados pela polícia, e nada se provou que eles sejam criminosos. Não é impossível que não seja provado e muito menos que não sejam criminosos, afinal, presume-se inocência até que se prove o contrário.

Acontece que inegavelmente, tais atletas tem, mesmo que pelo nobre sentimento de amizades de infância, afinidade e acesso à traficantes de drogas com armamento pesado que tanto assustam à população carioca e cultuam o que mais negativo há na imagem da cidade Brasil afora e exterior.

Isto leva a questão:

O consumidor que rechaça produtos piratas por eles aludirem ao tráfico de drogas é o mesmo que com total despreendimento consome produtos que tem como principais garotos propagandas sujeitos cujo estilo de vida se mistura à traficantes?

Vale à pena que essas empresas alardeiem com pompa e circunstâncias que ajudam a trazer e manter quem vende um estilo de vida à margem da sociedade legal e organizada? Que se ligam àqueles que trazem o pânico à população?

Por luxúria e adultério, Tiger Woods sentiu no bolso com a saída de Accenture, Gatorade e Gillete.

Que valores Batavo, Olympikus e BMG sinalizam a seus consumidores e investidores ao colocarem nas vitrines, por milhões de reais, o tráfico de drogas, o crime organizado e o contrabando de armas pesadas? Esses é que não são.

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