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Obrigado e Parabéns!

November 14th, 2013 por | Categorias: Campeonato Brasileiro 2013, Campeonato Mineiro 2013, Cruzeiro.

Eu nasci Cruzeirense. Sempre me vi assim. Aos sábados e domingos de manhã, desde os 2 anos de idade, ele me levava ao Clube e, à tarde, aos jogos. Foi algo tão natural que, guri que era, eu pensei que só existia o Cruzeiro. Não entrava na minha cabeça alguém não torcer pro Cruzeiro. Não existia outro time. E meu pai era meu herói, me mostrou isso e nunca me deixaria ver de outra forma. Eu estava errado.

*****

Dia 3 de fevereiro de 2013. Cruzeiro x Galo. Reinauguração do Gigante da Pampulha. O Cruzeiro vence por 2×1, gols de Marcos Rocha, contra, e Dagoberto. Fim de jogo, eu ligo pro meu pai. 2 vezes não sou atendido. Na terceira, com a voz um tanto quanto embargada (no momento, pensei que pela emoção), meu pai me felicita e diz que foi um jogão. Que o Cruzeiro tinha futuro em 2013. Eu desligo. Feliz. Por saber que ele está feliz também.

Dia 4 de fevereiro. Recebo uma ligação logo cedo. Minha mãe me avisa que meu pai foi hospitalizado. Sozinho em casa naquele 3 de fevereiro, ele passou mal, perdeu o equilíbrio e não conseguiu se mexer por aproximadamente 5 horas. Só se mexeu pra atender minha ligação. E, me vendo feliz, não quis me deixar preocupado. Talvez.

Dia 15 de fevereiro. Por falência múltipla dos órgãos meu pai falece. Sem me deixar nenhum bem material. Só um sentimento de frustração por não ter entendido a importância daquela internação. Por ter pensado que, forte como só os nossos pais nos parecem, ele passaria incólume por aquele período. E que comemoraria mais jogos do Cruzeiro comigo. Não consegui me despedir. Quando cheguei, meu pai já não podia mais falar e, segundo os médicos, não entenderia o que eu falasse. Frustração. E saudade. Foi o que me sobrou. E um escapulário dele que minha mãe me deu.

16 de fevereiro. Meu pai é velado e enterrado. Leva consigo a bandeira do Cruzeiro que eu tinha. A única. Como meu único pai. Não faria sentido ficar com ela sem ele. Foi ele quem me transmitiu aquele amor. Pra que continuar depois? Desnecessário.

E logo no primeiro jogo sem ele, o Cruzeiro empata com o Guarani de Divinópolis, em 17 de fevereiro. Meu ano não seria bom. Eu tinha certeza disso. Eu estava errado.

O Galo, com méritos, foi campeão da Libertadores e do Mineiro. E eu vi um grande amigo, em uma foto fenomenal, comemorando com seu pai em um abraço dos mais emocionantes. E eu me sentia desolado. Como pode o futebol fazer isso com uma pessoa? Por que tudo acontece ao mesmo tempo? Por que eu não poderia mais ter aquele abraço?

Eu deveria saber que meu melhor amigo, aquele de todas as horas mesmo, desde que me entendo por gente, não me abandonaria. Mas eu não sabia. Eu estava errado.

O Cruzeiro começa a vencer. Claudicante no começo, sofrendo com a dupla Diego Souza/Éverton Ribeiro. Mas vencendo. Eu ainda me sentia mal, mas o Cruzeiro me abraçou. E eu abracei o clube, como se nada mais restasse. Nada mais havia. Só eu e Ele. E meu pai vendo de cima, espero.

E o time tomou forma. Eu tinha certeza que era por mim. Que os caras sabiam do meu sofrimento e pensaram: “Não podemos deixar o Matheus desse jeito, o ano dele tem que ser bom de alguma forma”. Mas, mesmo com o gol mais bonito que vi in loco, uma pintura de Éverton Ribeiro, uma chance se foi. No lance da pintura do camisa 17, meu escapulário arrebentou pela primeira vez, dentro do Mineirão. Desesperei por não encontra-lo e pedi pro meu pai não me abandonar de novo. Pouco depois achei jogado embaixo de uma das cadeiras. Mas o Cruzeiro foi eliminado pelo Flamengo na Copa do Brasil. Restava o Brasileiro.

O time tomou fôlego e foi. E eu fui junto. Em todos os jogos do Cruzeiro no Mineirão, eu lá estava. Aquele título era pra mim, eu sabia, como não poderia vê-lo acontecer? E acreditei. Eu sabia. Esse texto já estava pronto desde muito tempo. Porque eu sabia, algo me dizia. Seedorf errando pênalti? Bola na trave de Barcos? Golpes de sorte contra o Goiás fora de casa? Eu não acreditava. Eu tinha certeza. Era pra acontecer. Eu estava certo.

Contra o Botafogo, meu escapulário arrebentou mais uma vez. E eu pedi novamente pro meu pai não ir embora. E um amigo meu encontrou. Alguns minutos depois, gol do Cruzeiro. E outro. E eu chorava. Faltavam 15 rodadas, mas eu já chorava por não poder abraçar meu pai no título. Meu amigo talvez não tenha entendido. Disse que era cedo pra chorar. Mas ali tudo se confirmou.

E hoje, 14 de novembro de 2013, 8 meses depois do falecimento do meu pai, 8 dias após seu aniversário, o Cruzeiro conquista seu terceiro título Brasileiro, seu sétimo título nacional. E eu estou feliz. Porque eu sei que meu pai está feliz. Não preciso gritar “TRICAMPEÃO!”, não preciso ficar bêbado, não preciso sair quebrando tudo por BH, não preciso gritar “CHUPA, GALO! CHUPA, KALIL!”.

Eu só preciso agradecer e parabenizar. Obrigado pai, por me fazer Cruzeirense. Obrigado Cruzeiro, por me fazer feliz. Parabéns pra nós todos por sermos três vezes campeões brasileiros!

Cruzeiro Campeão!

Cruzeiro Campeão!

Ps. 1: Eu gostaria de agradecer a todo o time, pessoalmente, um dia. Os caras não sabem o bem que fizeram a esse torcedor. Fábio, Dedé, Bruno Rodrigo, Egídio, Ceará, Mayke, NILTON, Lucas Silva, Henrique, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Borges, Dagoberto, William, Élber, Vinícius Araújo, Luan, JÚLIO BAPTISTA…todos. Muito obrigado! Marcelo Oliveira, pra mim, já é ídolo Cruzeirense. E também agradecer aos parceiros de todos os jogos da Sociedade Cruzeirense.

Ps. 2: #GilvanEterno e #AlenxandreMittos

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24 Comentários para “Obrigado e Parabéns!”

  1. Gaburah
    14/11/13 - 10:36

    Parabéns, Raposas. O clube que melhor negocia no futebol brasileiro.

    Obrigado, OdeO e Assumpção.

    Vai tomar no cu, #Botafogo.

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  2. RB
    14/11/13 - 10:59

    Agradeça o Botafogo também. Time incompetente do caralho.

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  3. Bender
    14/11/13 - 11:02

    Parabéns Matheus. E parabéns a seu pai também. Maneiro o texto.

    Só espero nem precisar assistir o jogo da última rodada. Mas caso o CRF ainda não tenha se livrado do Z4, conto com aquele corpo mole cruzeirense.

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  4. Gaburah
    14/11/13 - 11:38

    Mas se tem uma coisa que me deixa satisfeito DE VERDADE é saber que FINALMENTE o MAIÚSCULO Marcelo Oliveira vai ser catapultado à condição que já merece faz tempo: doravante, reconhecidamente, um dos GRANDES TÉCNICOS DO FUTEBOL BRASILEIRO.

    E tenho dito. Não é de hoje, mas tenho dito.

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  5. Marcus Oliveira
    14/11/13 - 11:48

    Parabéns Matheus. É nosso cara!!! O caneco tá em casa.

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  6. Sancho
    14/11/13 - 12:11

    Confesso, Matheus, que não consegui ir muito longe no texto. Me emocionei.

    Meus parabéns pelo HEPTA. Meus pêsames pela perda. Tenho um amigo palmeirense que perdeu o pai há muitos anos. Volta e meia, ele comenta:

    – A cada gol do Palestra, ainda escuto o grito dele…

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    Matheus

    Sancho, tem um cara do impedimento, Prestes, eu acho, colorado, que escreveu sobre ele e o pai e o Ronaldinho Gaúcho. Mostra pra ele, por favor.

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  7. Victor
    14/11/13 - 12:25

    Eu fiquei na mesma que o Sancho e embarguei.
    Fui até o final somente porque encaixa-se fortemente na forma como tenho visto o futebol recentemente, como Religião.

    Bona e RB entendem como um vírus, uma doença, mas é Religião. A transposição do texto que já estava dentro do Matheus há tempos é mais uma evidência fortíssima dessa visão. Futebol transmite valores, aproxima pessoas e une famílias. Futebol fornece esperança e alento, euforia e conforto. Futebol é foda. Transcende o mundo material.

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    Victor

    Ah…e claro… Parabéns ao título comemorado pela tua família, Matheus.

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    Sancho

    “Bona e RB entendem como um vírus, uma doença, mas é Religião.”

    Buenas, religião, quando mal entendida, vira doença. Futebol, quando mal entendido, vira doença também.

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    RB

    Futebol é religião, time de futebol é doença. É a célula radical.

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  8. Marco Abi
    14/11/13 - 16:15

    Pô, entrei pra sacanear… mas o texto tá tão bonito e tocante que não me permite.

    Parabéns, muito maneiro.

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  9. saulo
    14/11/13 - 17:08

    Cruzeiro foi taticamente e tecnicamente muito superior aos demais adversários. A diretoria acertou em trazer Marcelo de Oliveira antes da temporada, soube observar jogadores sem muita grif e encaixar perfeitamente durante o campeonatinho mineiro. Mostrou como é possível colocar um meio campo de jogadores técnicos no meio campo e marcar em linhas adiantadas nas exigências do futebol moderno sem correr grandes riscos. Minha dúvida ficar por conta da capacidade financeira do clube manter esse caro elenco na próxima temporada.
    Éverton Ribeiro é sem dúvida o melhor jogador do campeonato, deveria ser melhor observado na seleção brasileira. Infelizmente o Felipão é retranqueiro e coloca o Oscar no meio porque é titular absoluto desde a era Mano Menezes. Mesmo assim, joga erroneamente centralizado. No Chelsea costuma se movimentar pelos lados e o William ou Hazard jogam mais centralizados. Sua opção é sempre defensiva, entra o volante Ramires e o setor de criação fica restrito ao pavoroso Hulk ou Bernard.

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  10. Hugo Serelo
    14/11/13 - 19:14

    Ótimo texto, Caldas.

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  11. Andre
    14/11/13 - 21:13

    Eu tb entrei pra zuar. Mas o texto tb mexeu comigo.

    Parabéns pelo certame e com certeza o coroa tb tá feliz, tanto com o título qto com a sua alegria tb.

    O futebol, mesmo nessa terra pra lá de fodida, ainda eh capaz de inspirar e criar belas conexões emocionais como essa.

    Abç e parabéns!

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  12. Lincoln
    15/11/13 - 9:29

    Parabens Mathues. lindo texto. ele vale mais que qualquer titulo.

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  13. Marcio
    15/11/13 - 15:14

    Cara, depois disso tudo, no dá pra falar de futebol… Sinto pela sua perda e espero que a gloria do seu time faça, ao menos, arrefecer a sua dor. Belo texto, mas acima disso, belo sentimento. parabéns!

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  14. saulo
    16/11/13 - 5:07

    http://blogs.lancenet.com.br/foradecampo/pianista-sexy-homenageia-o-cruzeiro-tocando-hino-apenas-de-calcinha/

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  15. Lucas Leal
    18/11/13 - 15:59

    Muito, muito bom o texto!
    Não tenho dúvidas que Big John Caldas comemorou muito lá em cima!
    Parabéns, nego!
    Que, acima de tudo, o nome de Minas seja colocado onde merece.

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  16. Andre L
    19/11/13 - 7:48

    Matheus,

    Parabéns. E um abraço.
    (Dizer mais seria supérfluo.)

    PS: Vá se preparando para a primeira rodada da Libertadores, que bem possivelmente acontecerá no meio de fevereiro de 2014…

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  17. Fernando Bastos
    25/07/14 - 16:32

    Cara, que texto, que texto!

    Deu um nó na garganta.

    Abraços de um irmão cruzeirense, quw assim como você, tbm aprendeu tudo com o pai.

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  18. Márcio Vicente
    25/07/14 - 22:34

    Só agora tive conhecimento do seu texto. Sei bem o que você passou (ou quase) meu pai faleceu em 06/02/2013 dez dias antes de completar 81 anos, em cada jogo que eu fui eu queria gritar por ele, pular por ele e comemorar por ele. O Cruzeiro (também meu melhor amigo, coincidência né?) me abraçou e eu esperava cada jogo para revê-lo e deixa-lo me consolar. Foi 1 ano sofrido em que cada lagrima de alegria tinha um quezinho amargo de tristeza, mas foi uma ano escrito em mais uma de nossas paginas heroicas e imortais e que vai ficar na memoria. Espero que ao ir aos jogos possamos sempre lembrar de quem nos fez tatuar no coração as cinco estrelas azuis do Cruzeiro do Sul e, também para honra-los, possamos sempre estar com este nosso melhor amigo….
    Obrigado pelo texto e por me lembrar como o sentimento não vai parar e sim aumentar….

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