Home   Open-Bar   Trollagem   Bolão   Mercado da Bola   Copa do Brasil   Seleção   NFL   Contato  

Futebol é coisa de mulher

June 26th, 2010 por | Categorias: Futebol.

Bola rolando no campo é mero pretexto para ideias, divagações e bate-papo. Não é à toa que os melhores textos são produzidos por quem… não tem a mente contaminada pela porcaria da bola rolando no campo. A edição engraçadinha de links e imagens ficou à cargo do BBG. O texto original encontra-se dislexicamente publicado aqui.

por Carol Bataier

Futebol aos 7 anos

Eu queria gostar de futebol. Tem mulher que xinga, acha pura bobagem. Tem aquelas que falam que a única coisa boa daquilo tudo são as pernas dos jogadores. Eu concordo que isso é realmente relevante, belos meninos. Mas lamento não entender nada além do 11 de um lado, 11 do outro, com o objetivo fazer gol; menos aquele que fica lá no gol, que tem, obviamente, o objetivo contrário do restante.

Queria eu, que esses dias aprendi o que significa impedimento, ter uma paixão igual essa que os homens têm, que os deixa cegos, surdos e mudos para qualquer outras coisa que não seja a disputa no gramado.

Eu deveria gostar de futebol. Mas o mesmo motivo que me obrigaria a gostar me fez estar nem aí pra coisa. Meu pai é um dos apaixonados, não perde uma partida, mesmo que seja entre XV de Jaú e o Pirapozinho.

Eu, com meus 7 anos, tentei impressioná-lo, e na aula de educação física, enquanto as crianças jogavam queimada, lancei a ideia: vamos jogar futebol. Juntei mais 5 ou 6 adeptos, delimitamos o espaço do gol com pedras, separamos os times. Já no primeiro tempo percebi que a coisa não é fácil assim. Fui mandar um pênalti, preparei-me, respirei fundo, mirei, corri. Pisei na bola, ela me escapou de lado, toda vagarosa, para fora do campo e eu por pouco que não cai de bunda.

A falta de gol e o fiasco do meu pênalti não me abalaram. Achei um grande feito organizar uma pelada em terras onde o único esporte era a queimada. Cheguei em casa orgulhosa e contei para o meu pai e ele, naquele senso comum que é bem típico de muita gente, me disse que futebol não é coisa de menina. Fim de jogo.

Eu nunca comprei a história de que futebol não é coisa de menina, mas o fato de meu pai ignorar meus esforços me fez deixar essa história de lado e ir me preocupar em ficar boa na queimada.

Só que aquilo que se ignora quando criança uma hora volta, diria Freud, ou algum desses caras aí que sempre jogam na infância a culpa dos desejos e frustrações da vida adulta. Pois bem, hoje tenho o desejo de entender lance por lance e a frustração de não ser parte da nação apaixonada pelo futebol.

É de causar inveja à mais apaixonada das mulheres o sentimento de um homem diante da partida do seu time de coração. Os mais exaltados xingam, puxam os cabelos, chutam, gritam. Os contidos roem as unhas freneticamente, engolem seco, comem compulsivamente quilos e quilos de azeitonas. Não há como esconder a emoção. E eu, como representante da espécie que é, por excelência, a rainha das emoções, fico com inveja. Sinto-me desbancada do meu posto de birrenta, exagerada, apaixonada. São os 90 minutos em que nós, mulheres, meninas, senhoras, assumimos toda a racionalidade e frieza da situação. Mas quem disse que é isso que a gente quer? Meu pai, coitado, enganou-se. Futebol é emoção. Tem coisa mais feminina do que isso?

———-

Carol é amiga de longa data, jornalista e, nas próprias palavras, “só quer curtir essa farra toda”. Como percebe-se, um pouco avessa ao futebol. Mas entende da paixão que ele gera mais do que muitos marmanjos que se dizem apaixonados pela bola.

Inscreva seu e-mail e confirme pelo link eviado para receber novos artigos do Blá blá Gol.

Comentarios Enviar por e-mail Enviar por e-mail

5 Comentários para “Futebol é coisa de mulher”

  1. carol
    27/06/10 - 10:38

    haha, adorei as gracinhas todas. ;)

    Responda a este comentário

  2. Victor
    27/06/10 - 13:10

    Show de bola o post. Pena que teve de concorrer com o polêmico Alemanaha x Inglaterra.
    Mas ficou show. A mulherada tem arrebentado por aqui quando intimadas a comparecer.

    Responda a este comentário

  3. Robinson
    27/06/10 - 20:44

    Muito bom!!!

    Ao invés de cair na vala comum da aversão feminina ao futebol (o que absolutamente não faz o menor sentido) e mandar o tradicional “por que não dão uma bola para cada um???” a autora destilou nesse post delicioso que o futebol pode ser (e é) uma grande diversão, para ser visto e/ou praticado independente de sexo, idade, credo, cor ou opção sexual.

    O melhor é que ela tampouco se refere ao interesse “bissexto” das mulheres, ou seja, apenas em tempos de Copa do Mundo. Porque futebol é muito mais do que apenas o futebol.

    Acho até que ela gosta de futebol e ainda não sabe.

    E o futebol a espera de braços abertos.

    Responda a este comentário

  4. Matheus
    28/06/10 - 13:22

    Carol é uma das mentes mais imaginativas que eu conheço. E com uma imaginação que, além de ser grande, costuma gerar coisa muito boa quando para pra escrever.

    Quando soube que ela tinha escrito sobre a bola, sabia que viria coisa boa.

    Eu não sou muito fã do projeto Blá Blá Girl porque o BBG já é pra homem e mulher. Mas se existir o espaço, esse post é hours-concours.

    Responda a este comentário

  5. Manna
    28/06/10 - 21:06

    Historicamente, as mulheres foram criadas como um sexo frágil, cujo lugar seria a cozinha e cujas funções primordiais seriam a de cuidar da casa, dos filhos e do marido. Graças a Deus, as mulheres que nos precederam queimaram sutiãs, ingressaram no mercado de trabalho, conquistaram o direto ao voto e ao divorcio, além de outras conquistas, provando que não somos piores e nem submissas ao homem. Apesar disso, a luta pela democratização das relações de gênero persiste até hoje, luta este que envolve os aspectos futebolísticos. Para os homens que acham que futebol não é coisa de mulher, os desafio a testarem seus proprios conhecimentos e ensinarem a elas todas as artimanhas e regras do futebol e, mais do que isto, ensinem a amá-las esse esporte que, como a Carol mencionou, é pura emoção.

    Responda a este comentário

Deixe seu comentário