Home   Open-Bar   Trollagem   Bolão   Mercado da Bola   Copa do Brasil   Seleção   NFL   Contato  

Doping: mais uma página triste do esporte

October 10th, 2007 por | Categorias: Uncategorized.

A norte-americana Marion Jones, uma das mulheres velocistas mais premiadas do mundo, com títulos e recordes mundiais e olímpicos, costumava ser exemplo de perseverança e de conquistas para meninas aspirantes à carreira desportiva. O mito caiu por terra.

Ela treinou por muito tempo com Charlie Francis ( o mesmo que admitiu ter ministrado substâncias ilícitas ao canadense Ben Johnson) e por Trevor Graham, dono de uma academia para velocistas que enfrenta diversos processos em relação à dopagem. Desde 2003 ela negou solenemente essa hipótese, mas nesta semana ela admitiu a farsa, pediu desculpas pelo indesculpável e anunciou sua retirada definitiva das pistas.

Jones foi obrigada a devolver as cinco medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos de Sydney, sendo três de ouro nos 100m rasos, 200 metros rasos e revezamento 4x100m, além de duas de bronze no salto em distância e no revezamento 4x400m. Terá ainda que devolver cerca de cem mil dólares em premiações. E, numa decisão orwelliana, o COI vai tentar apagá-la da história do esporte, excluindo cada um de seus registros de recordes, também com a devolução do dinheiro de todas as premiações recebidas na carreira.

A droga em questão é o THG, fabricado pelo laboratório Balco amplamente utilizado por atletas em busca de aumento de performance, no passo em que por muito tempo ele era indetectável nos exames antidoping. Depois de receber anonimamente uma ampola da substância, o comitê antidoping desenvolveu testes para encontrar o THG e investigações confirmaram o uso por parte de muitos atletas de ponta, como o britânico Dwain Chambers e o americano Tim Montgomery, ex-marido de Marion Jones. E uma penca de suspeitos, até hoje ainda não confirmados.

É impossível não se impressionar com a gravidade desse acontecimento. Durante a Guerra Fria, o doping era tratado pelo ocidente como “coisa do lado de lá da cortina de ferro”, eram os alemães, ou os soviéticos, ou chineses, porque comunista só vencia se estivesse dopado pelo seu governo. Acabou a hipocrisia, e com ela se vão figuras que durante anos aprendemos a admirar pelas suas conquistas, e assistiremos as próximas Olimpíadas com desconfiança. E perguntando qual é a graça de vencer burlando as regras, arriscando a própria saúde e com a possibilidade de ser desmascarado no futuro.

Inscreva seu e-mail e confirme pelo link eviado para receber novos artigos do Blá blá Gol.

Comentarios Enviar por e-mail Enviar por e-mail

8 Comentários para “Doping: mais uma página triste do esporte”

  1. Victor
    10/10/07 - 10:57

    Excelente texto!

    Robínson,
    Cada vez mais eu fico orgulhoso da minha antiga opinião à respeito de qual deveria ser o foco do Brasil em Olimpíadas.
    Eu sempre achei que o Brasil não deveria se preocupar com medalhas de ouro, aliás… nem mesmo com medalhas.
    Ao contrário do ranking olímpico, eu torcia para os brasileiros se destacarem não pela qualidade, e sim pela quantidade.
    Um indício de investimento em massa dos esportes no Brasil, não seriam aumento de medalhas de ouro, mas sim mais atletas nas olimpíadas, e mais deles chegando em finais, ficando entre os 8 ou 10 melhores do mundo.
    Esse meu pensamento dizia respeito que em um país pobre como o Brasil, o foco nunca deveria ser o esporte de alto rendimento, mas sim o esporte na base, não com o objetivo de formar atletas campeões do mundo, mas simplesmente incluir o gosto pelo esporte e pela prática na cultura do brasileiro.
    Para mim, é mais importante que crianças e adolescentes mantenham a vontade de praticar esportes ao longo da vida, independente de nível competitivo.
    Ainda mais quando sei que as medalhas de ouro que para o Brasil apareciam mais dependiam do investimento próprio do alteta que a um trabalho efetuado por instituições brasileiras ou por cultura esportiva nossa.
    ****
    A confirmação de que todos*os atletas de alto rendimento utilizam-se de doping é apenas mais um (fortíssimo) argumento para torcer contra medalhas olpímpicas brasileiras.
    ****
    *Sim. Eu não tenho como provar que são todos os atletas, mas assim como políticos, atletas de alto rendimento são para mim uma classe sem moral. Que os que não se dopam se insurjam.
    Que comece um McCarthismo do esporte. Denúncias!

    Responda a este comentário

  2. Rafael
    10/10/07 - 11:19

    Acho que todos concordam que quanto mais atletas brasileiros nos jogos melhor. Mas dizer que vai torcer contra as medalhas brasileiras é demais. Não acredito que TODOS que ganham medalhas façam uso de doping. Os que fazem devem ser punidos mesmo.

    A disputa é saudável, é inerente ao ser humano a competição, e a busca por medalhas é apenas conseqüência do que seria um investimento em massa no esporte brasileiro.

    Responda a este comentário

  3. Gaburah
    10/10/07 - 11:23

    Beleza de colocação, Victor. Talvez este fosse o melhor caminho pra mudar a consciência esportiva do brasileiro, que como já amplamente discutido aqui, não gosta de competir. Gosta é de ganhar.
    Robinson: E perguntando qual é a graça de vencer burlando as regras, arriscando a própria saúde e com a possibilidade de ser desmascarado no futuro. Mais do que isso eu pergunto: qual é a graça de torcer ou comemorar alguma conquista sob esta pesada nuvem de desconfiança que agora se impõe sobre os países grandes favoritos nas competições? Porque nenhum resultado, por mais lícito que seja, é mais confiável. Todo mundo paga pelo erro de um. Ainda que esse um não exista, porque a prática comum é usar as paradas mesmo, e descobrir cada vez mais formas de burlar os exames de doping. Essa sim é a verdadeira competição: quem dopa melhor e não é pego.
    Outra coisa: quer se dopar, sabendo dos riscos à saúde? Então vai ser burro na puta que pariu, porque mesmo que o cara não dê a mínima pra graça que vai ter uma conquista roubada, é bem possível que o tempo se encarregue de cobrar a estupidez através de um possível câncer de fígado, próstata, medula ou seja lá o que for.
    Qual é o estímulo? A vitória, a superação, o reconhecimento? Porra nenhuma! Do que adianta o comitê (ainda que seja a medida correta nesses casos) tomar de volta registros e premiações se muitas vezes os caras lucraram um zilhão de vezes mais com campanhas de marketing e companhias de material esportivo? Isso já era, ninguém toma. O cara foi banido? Ótimo, mas não está nem aí, porque encheu as burras e tá com a aposentadoria garantidíssima.
    Vergonha é a falta de ética explícita que esses casos expõem descaradamente, pedidos de desculpas vazios e caras-de-pau lustradas. E justamente o esporte, que é uma maneira das mais belas do indivíduo conhecer a si mesmo e trilhar o caminho pessoal da busca por ser um indivíduo cada vez melhor, que faça diferença no tempo em vida e na história da humanidade.
    A verdadeira conquista é a vitória sobre si mesmo.

    Responda a este comentário

  4. Serginho Valente
    10/10/07 - 11:53

    A teoria é muito bonita.
    Mas, infelizmente, na vida (e não só nos esportes) só há investimentos, se houver resultados. Até mesmo um atleta amador, só vai praticar um esporte se tiver algo que o inspire a fazer isso. Geralmente é algum ídolo (que possui resultados).
    E lamento muitíssimo informar, mas para se CHEGAR as olimpíadas já é necessário praticar o esporte de “alto rendimento”.

    Responda a este comentário

  5. Victor
    10/10/07 - 12:26

    Ao longo da história, não só do esporte, mas de qualquer coisa, não se verificam tendências lineares (gostam muito de falar cíclicas, mas eu acho esse termo errado). Seja em economia, política, arquitetura, literatura, música, indústria, tecnologia…
    O esporte profissional ainda engatinha. Eu não creio que seja nada impensável, que gigantes como Nike e Adidas queiram associar sua imagem à produtos com maiores valores éticos e de sustentabilidade. A valorização de um atleta mais próximo do ser humano em seu estágio natural seja mais rentável a essas empresas, e com isso, esse canibalismo nos esportes de alto rendimento tendam a cessar por um período.
    Para quem acha que estou viajando, sendo utópico e romântico, gostaria de ressaltar que fora do esporte grandes corporações já tem adquirido conscicência de racionalização e sustentabilidade.
    E não que isso seja apenas um discurso verde e bomzinho, mas as corporações adiantaram-se a uma tendência inevitável do momento, e estão aproveitando para implementá-las de forma a tirar proveito dessa idéia. Não se iludam, pois ser “verde” hoje em dia é um negócio lucrativo.
    Olhe criticamente para qualquer propaganda, e todas propalam as questões ambientais e de sustentabilidade.
    Eu duvido que o esporte fique de fora dessa onda “sustentável”. Caso fique, vai perder o bonde da história.

    Responda a este comentário

  6. Serginho Valente
    10/10/07 - 13:43

    Isso nem é mais tendência, já é fato.
    Quero ressaltar que quando disse que a teoria é bonita, estava sendo absolutamento sincero.
    Mas a busca por resultados é inerente a prática do esporte, até em par ou ímpar na escola, todos querem ganhar. Não adianta achar que essa busca vai se abrandar, ou que as vezes não vai passar dos limites. Sempre vai haver esse jogo de gato e rato com doping.
    Só resta punir severamente os que forem pegos.
    E me pergunto se não seria o caso, de numa situação óbvia de doping, como da Rebeca Gosmão por exemplo, público e imprensa repudiarem com vaias, reportagens e sei lá mais o quê, na ocasião de suas vitórias. Mas isso me parece meio utópico…

    Responda a este comentário

  7. Gaburah
    10/10/07 - 14:26

    Sinceramente, acho menos utópico do que parece.
    Basta essa tendência a que você e o Victor se referiram – que é fato – se concretizar cada vez mais no (in)consciente coletivo.
    Não acho impossível público e imprensa um dia vaiarem um atleta comprovadamente adepto do uso de drogas promotoras de performance, mas acho que esse cara não tem nem que chegar na pista, ou na piscina, ou na quadra, seja lá onde for. O difícil, repito, é cortar o mal no início, porque se a caça aos atletas dopados se intensifica, as drogas estão cada vez mais modernas e difíceis de serem rastreadas, e as manobras para enganar os exames idem.

    Responda a este comentário

  8. Victor
    10/10/07 - 14:34

    Imprensa e público não fazem muito mais que remar com a maré. Então, vão vaiar se o esporte for nessa direção.
    A luta técnica contra o doping é realmente muito difícil, pois não somente as drogas são de difícil detecção na hora das competições, como não se pode esquecer das drogas que se utilizam para melhorar as condições de treinamento, e que eventualmente não surtam efeitos diretos na competição em questão. É tão doping quanto. Ilícito e de mais difícil detecção. Além de ser igualmente prejudicial ao organismo da pessoa que ingere.

    Responda a este comentário

Deixe seu comentário