Home   Open-Bar   Trollagem   Bolão   Mercado da Bola   Copa do Brasil   Seleção   NFL   Contato  

Do que são feitos os verdadeiros campeões?

September 6th, 2012 por | Categorias: Alessandro Zanardi, Londres 2012, Olímpicos, Paralimpíadas 2012.

A imagem do ano esportivo

É sabido que os Jogos Paralímpicos são sempre recheados de lições de vida, de superação, de perseverança, mas a história protagonizada por Alessandro Zanardi é de arrancar lágrimas de qualquer criatura dotada de algum sentimento. Esse bolonhês merece livro, filme e documentário, porque o que ele realizou na vida real vai muito além do que a ficção ousou imaginar. Sua trajetória marcada pelas conquistas e pela dor é a prova de que tudo pode mudar em um segundo, esteja a pessoa no topo da glória ou no fundo do poço, mas só os verdadeiros campeões têm a fibra para escalar pelas paredes do poço e voltar ao seu lugar de direito.

Nada foi fácil na carreira de Alex Zanardi. Seu début na Fórmula 1 foi complicado, quando ele apenas teve oportunidades em equipes de fim de fila. A ausência de resultados o levou a perder espaço na categoria, e ele passou algum tempo guiando carros de turismo antes de tentar a vida nos EUA – o que naquele tempo era considerada uma “aposentadoria antecipada” para os jovens pilotos que para lá migravam. Só correndo no Novo Mundo o piloto teve chance de mostrar seu talento com as cores da Chip Ganassi. Com um bom pacote e atuações inesquecíveis, Zanardi se sagrou bicampeão da Indy e atraiu os olhos do mundo para aquele underdog que pavimentou seu próprio caminho para a vitória. O desejo de ser vitorioso no automobilismo europeu estava ainda vivo, porém, quis o destino que a sua badalada volta à F1 fosse breve e apagada em função de um ano instável e de transição na Williams em 1999. Humilde, voltou em 2001 aos EUA para novamente tentar buscar espaço onde ele já havia sido rei. Até o final daquele GP da Alemanha, em Lausitzring, quando tudo mudou de novo.

Zanardi fazia uma magistral corrida de recuperação e se aproximava de sua primeira vitória após sua volta à categoria, no entanto, algo saiu errado. Naquela tarde, até os sádicos que ligam a TV esperando por uma batida ficaram chocados com a realidade dos pedaços de carne que voaram em rede mundial. Foi um erro crucial, um impacto brutal que iniciou uma luta desesperada pela própria vida do italiano, que perdeu praticamente três quartos do sangue de seu corpo e sofreu sete paradas cardíacas no caminho ao hospital. Felizmente vontade de viver foi maior do que os extensos ferimentos.

Live on two legs

Sua recuperação não poderia ser mais bem-sucedida. Um ano depois do acidente, Alex voltou ao GP da Alemanha para agradecer aos médicos que o salvaram dos destroços de seu carro. Em 2003, ao volante de um bólido adaptado, deu as simbólicas 13 voltas que não completara dois anos antes. Ele já seria um grande vencedor, então, mas ele quis mais: voltou a ter uma vida completamente normal e fazer aquilo que amava. Venceu maratonas para cadeirantes, voltou a competir em carros de turismo, testou um F1 adaptado, encarou um projeto paralímpico com uma bicicleta impulsionada pelas mãos. Colocou a medalha de ouro no peito.

Nem o cinema foi capaz de criar um roteiro como tal ou um personagem com Alex Zanardi. Quem não se recorda da simpática Maggie Fitzgerald, a “Menina de Ouro” de Clint Eastwood? Para ela, bastou o que já havia conquistado para dar tudo por encerrado com a sua tragédia pessoal. Quem sabe, se ela tivesse a chance de assistir “O Escafandro e a Borboleta” poderia ter um outro ponto de vista a partir da história de Jean-Dominique Bauby – que não era atleta, mas escreveu um livro apenas piscando o olho esquerdo. Alex decidiu que padecer de autopiedade por seu revés não era opção, e que muito mais havia pela frente para ser conquistado. Sua história não acabou ali.

Alessandro Zanardi pode se dizer campeão como poucas pessoas no mundo podem. Mas ele não é o único. Todos nós temos que lutar pela superação das próprias limitações. E quanto maior a limitação, maior deve ser a obstinação para superá-la, e mais doce é o sabor de vencê-la. Esse é o espírito do esporte paralímpico.

Quanto vale uma medalha paralímpica?

Qual é o limite para essas pessoas?

Alguém ainda consegue chamar essas pessoas de “deficientes”?

Inscreva seu e-mail e confirme pelo link eviado para receber novos artigos do Blá blá Gol.

20 Comentarios Enviar por e-mail Enviar por e-mail

20 Comentários para “Do que são feitos os verdadeiros campeões?”

  1. Victor
    6/09/12 - 18:12

    Responda a este comentário

  2. Bender
    7/09/12 - 3:13

    Assisti a matéria com ele ontem. Sensacional

    Responda a este comentário

  3. Asimov
    7/09/12 - 9:24

    Grande depoimento Robinson. Merecia traduçao para várias línguas.
    Os jogos paraolimpicos têm o real espírito esportivo ainda presente.

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    E se a prótese de um for melhor que a prótese do outro? Não há doping, ou treinamento excessivo que prejudique a saúde destes atletas de ponta?

    Responda a este comentário

    Robinson

    Doping? É bem capaz de existir, como em qualquer modalidade esportiva ou qualquer atleta sem limitação. Doping é uma praga.

    Essa questão das próteses já deu polêmica entre o brasileiro Alan Fonteles e Oscar Pistorius. Acho que é uma questão como foram os maiôs “espaciais” da natação em Pequim. A tecnologia tem que ter um limite para que os atletas menos endinheirados não sejam simplesmente alijados da disputa. O pior é que vários recordes nas piscinas de Pequim caíram em Londres, onde os maiôs da discórdia estavam banidos.

    Responda a este comentário

    Robinson

    Ô amigo… tem que aparecer mais… o senhor anda muito sumido!!!

    Responda a este comentário

  4. Serginho Valente
    7/09/12 - 10:16

    “Alguém ainda consegue chamar essas pessoas de “deficientes”?”

    Grande Robinson, mais um belíssimo texto. Só gostaria de propor uma reflexão. Estas pessoas não são deficientes, mas são pessoas com alguma deficiência. E não vejo problema em verbalizar isso.

    O grande barato da Paraolimpíada, e mostrar que existe vida e produtividade para estes atletas. Qual o limite deles? É o limite imposto pelo corpo dos mesmos, assim como acontece com os atletas da Olimpíada.

    Enfim, concordo quase totalmente com o texto, só faria um pequena alteração:

    Todos nós temos que lutar pela superação das próprias limitações. E quanto maior a limitação, maior deve ser a obstinação para superá-la, e mais doce é o sabor de vencê-la. Esse é o espírito do esporte.

    Responda a este comentário

    Robinson

    Entendo o seu ponto vista. Qualquer esporte é baseado na superação dos próprios limites.

    A diferença do esporte paralímpico é que a esmagadora maioria dos atletas carregamtraumas, histórias dramáticas, amputações, paralisias, deformações, problemas neurológicos e motores… são coisas tão sérias que a decisão de buscar se inserir na sociedade por meio do esporte já é dolorosa e difícil. Daí a se tornar atleta de alto nível apesar de todas as dificuldades inerentes a sua condição…

    Não dá para negar que no caso deles há uma superação a mais.

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    Tudo depende Robinson. Devem existir muitos atletas sem traumas físicos com histórias de superação bem maiores do que atletas que disputam a Paraolimpíada.

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    Então, acho que devemos encarar esses atletas apenas como atletas. Evidentemente, que pela condição física, eles competem em outra categoria. Acho que essa é a grande luta desses caras, serem tratados como normais, dentro das suas características.

    Responda a este comentário

    Robinson

    Com certeza existem. Por exemplo, a Joana Maranhão foi abusada pelo treinador quando adolescente, mas sem querer fazer qualquer juízo de valor – pois para cada um, o seu próprio drama já é dramático o suficiente… – as histórias de quem perdeu um braço, ou as duas pernas, ou é cego, ou cadeirante… se você conhece alguma pessoa que se enquadre em alguma dessas condições, pergunte a ela como era antes e no que a vida se transformou depois, em um mundo totalmente inadaptado e indiferente às suas necessidades. É muito punk.

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    Sim, mas o que é mais punk? Alguém como Zanardi, que sempre teve condições financeiras abastadas, uma estrutura a sua volta, ou a Joana, abusada, pobre e sem apoio nenhum?

    Acredito que sejam os dois guerreiros e vencedores, exemplos. Mas não vejo heroísmo maior em um ou em outro.

    Responda a este comentário

    Robinson

    Não é fazer juízo de valor… A história do Zanardi impressiona pelo fato de ele ter alcançado as glórias que alcançou quando tinha as duas pernas, e após perdê-las – diferente da ficcional Maggie Fitzgerald, citada no post -, ele foi capaz de reinventar a própria vida e voltar ao topo.

    Sinceramente, eu não posso dar certeza de que ele sempre teve condições financeiras abastadas e uma estrutura à sua volta. Sim, automobilismo não é esporte para pobretões, mas lá dentro não é para todo mundo que as coisas são simples.

    Responda a este comentário

  5. Serginho Valente
    7/09/12 - 10:18

    Em tempo, não podemos deixar de dar os parabéns também para Natalia Partyka, para mim, a parada mais maneira do ano.

    http://www.foxsports.com.br/blogs/view/58043-natalia-partyka-a-garota-sem-parte-do-braco-direito-que-surpreende-em-londres

    Responda a este comentário

    Robinson

    Cara, como eu torci para essa menina. Nas olimpíadas, que eu me lembre, ela venceu uma partida e perdeu outra, jogando muito. Nas paralimpíadas, acho que deu ouro.

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    Neste caso, nenhum resultado seria, ou será, maior do que o exemplo. Sensacional.

    Responda a este comentário

    Robinson

    As duas coisas mais reivindicadas pelas pessoas com limitações, atletas ou não, são o direito ao acesso e o direito à igualdade.

    O que fizeram tanto a Partyka quanto o Pistorius foi notável.

    Responda a este comentário

    Bender

    Eu vi a partida que ela perdeu nas olimpiadas. Foi pra uma holandesa japa. Muito show mesmo.

    Responda a este comentário

  6. Robinson
    7/09/12 - 18:40

    Zanardi ganhou hoje sua segunda medalha de ouro nas Paralimpíadas.

    Mito.

    Responda a este comentário

  7. Victor
    8/09/12 - 12:38

    Quando eu vi a notícia, mandei imediatamente para o Robinson. Sabia que vinha coisa boa por aí.
    As intervenções de Serginho elevaram o nível do que já estava excelente. Voltarei aqui com mais calma depois.

    Responda a este comentário

Deixe seu comentário