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Deixem o Schumacher em paz

May 25th, 2011 por | Categorias: Automobilismo, Fórmula-1.

Schumacher no olho do furacão

As corridas da “nova” nova  Fórmula 1, para manter o clichê global,  no final das contas, realmente atingiram o objetivo dos dirigentes: aumentar o número de ultrapassagens e incrementar o ‘show’. As asas móveis, os pneus que parecem feitos de isopor e que exigem uma quantidade insana de trocas, o KERS que vez ou outra não funciona trouxeram um bocado de imprevisibilidade para as provas. Ou melhor, talvez tenham tornado tudo um tanto quanto caótico. São tantas ultrapassagens que é difícil até analisar as atuações. Fora essas transformações, após as cinco primeiras etapas, o quadro pintado é bem parecido com o de 2010. A Red Bull domina com um Sebastian Vettel muito mais maduro, sempre na alça de mira da McLaren. Mas ele não é o único piloto alemão que está sendo comentado na imprensa esportiva.

Muito tem sido falado sobre a decepção do retorno de Michael Schumacher ao circo da Fórmula 1. De fato, não há muitas pessoas fora da Mercedes GP que ainda confiam no potencial do heptacampeão. Esse discurso inclui hoje um grande contingente de comentaristas – dizendo que Shumi mancha sua própria história – e fãs do esporte desdenhosos dos resultados dele – obviamente, ele só vencia porque tinha o melhor carro e ainda por cima roubava. As punhaladas finais vieram de um dos principais incentivadores da volta dele: Bernie “little troll” Ecclestone, que já sugere a reaposentadoria ainda antes do fim do ano. Afinal, o chefe supremo da F1 já conseguiu a atração da mídia para Sebastian Vettel, Fernando Alonso, e Lewis Hamilton, os principais protagonistas da temporada. Mas todos se esquecem que se hoje existe um Vettel é porque antes dele existiu um Schumacher.

Vamos recapitular.

Karl Benz e suas invenções que mudaram o mundo

O caso entre a Alemanha e o automobilismo é uma relação tão uterina que já estava estabelecida desde os primórdios do próprio automóvel. Não à toa nomes como Karl Benz, Gottlieb Daimler, Robert Bosch, Rudolf Diesel e Ferdinand Porsche são bastante familiares até para quem não faz ideia de quem eles são. Nas competições, desde o início do século XX, os carros da Mercedes já corriam com bastante sucesso. Com a ascensão do III Reich, já conhecidos como as “flechas de prata”, os bólidos Mercedes e  Auto Union levaram pilotos germânicos a diversas vitórias visando a comprovar a “superioridade ariana”. Após a Segunda Grande Guerra e com a criação do Mundial de Fórmula 1, ao retorno triunfal com o título da Mercedes em 1954 guiada por Juan Manuel Fangio se seguiu a maior tragédia da história do automobilismo, nas 24 horas de Le Mans, quando um acidente ceifou a vida do francês Pierre Levegh a bordo de um Mercedes e de cerca de 80 espectadores. Enlutada, a montadora estava novamente fora das pistas de competição.

von Trips, poderia ter sido um grande campeão, mas ficou só a estátua

Esse foi o tom do drama alemão no automobilismo nos anos seguintes. Houve participações esparsas e pouco expressivas de pilotos germânicos, até a chegada de Wolfgang von Trips. O mais bem-sucedido piloto alemão antes de Schumacher pilotava um Ferrari e precisava de apenas um terceiro lugar naquele GP de Monza em 1961, porém uma colisão com a Lotus de Jim Clark mandou mais um germânico pelos ares, matando o aristocrata alemão e mais uma dúzia de espectadores. As feridas traumáticas se reabriram.

Após outro punhado de pilotos sem qualquer destaque ao longo da década de 70, Rolf Stommelen, um piloto de resultados interessantes em categorias de turismo, poderia ter sido o cara, mas não via sua carreira decolar na principal categoria do automobilismo. Isso perdurou até o GP de Barcelona de 1975, em Montjuich, quando um aerofólio quebrado o fez voar sobre a torcida, matando mais alguns espectadores e aumentando o carma bavaro. Recuperado, ele morreu anos mais tarde em uma corrida de protótipos – de aerofólio quebrado.

Bellof barbarizou no asfalto molhado do Principado. Até o Senna sentiu um calor.

Naquela mesma tarde em Monjuich, foi declarado vencedor da prova um outro talentoso alemão de nome Jochen Mass. Essa seria a única vitoria de um piloto que nunca esteve no lugar certo e na hora certa. Tanto que sua biografia ficou marcada pelo fato de ter sido abalroado por trás pela Ferrari de Gilles Villeneuve no acidente que pôs fim à vida do bravo canadense em 1982. O negro ano de 1985 viu a morte de mais dois promissores pilotos da Alemanha: Manfred Winkelhock e Stefan  Bellof. O último causou furor na Fórmula 1 no célebre GP de Mônaco de 1984, quando largou em vigésimo e se aproximava velozmente de Prost e Senna quando a corrida foi finalmente interrompida. O detalhe é que tanto Bellof quanto Winkelhock dirigiam carros protótipos da Porsche em seus acidentes fatais.

Sobreveio mais um hiato técnico com os inertes Christian Danner, Bernd Schneider e Volker Weidler. Em 1991, todas as fichas foram então apostadas pela Mercedes – que retornara ao mundo das competições em 1988 como parceira de Peter Sauber nos protótipos, e estes já ensaiavam a entrada na F1, o que aconteceu em 1992 – em um jovem chamado Michael Schumacher. A vaga comprada na equipe de Eddie Jordan foi o despertar da carreira mais vitoriosa que a categoria já viu. Um bicampeonato pela Benetton, mais os cinco títulos seguidos no casamento com a Ferrari, recordes e mais recordes foram conquistados. Aqueles que hoje desprezam o heptacampeão foram os mesmos que temeram a “perda de identidade” da categoria e a “queda do interesse” do público nas corridas quando ele anunciou sua primeira aposentadoria.

Em 2011, a Alemanha já ouviu seu hino tocar quatro vezes em cinco corridas em homenagem a Sebastian Vettel. Contando a estrela do momento, os alemães somam ao todo seis pilotos entre os 24 do grid, e poderiam ser sete se a revelação de 2010, Nico Hülkenberg, não tivesse ironicamente ficado sem vaga para esse ano por falta de dinheiro. Toda essa geração de pilotos alemães é fruto do sucesso de Schumacher, o ápice de toda uma cadeia evolutiva que iniciou-se na inventividade, sofreu duros e traumáticos revezes até alcançar a excelência, os resultados e a consagração.  A Fórmula 1 atual deve muito ao automobilismo alemão. E o automobilismo alemão deve muito a Michael Schumacher. Se ele hoje corre para se divertir e há alguém disposto a pagar por isso, ele pode. Mais respeito a quem já fez o suficiente para merecer. Muito mais, até.

Itália/2001: o até então bicampeão prestes a escrever uma nova história

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32 Comentarios Enviar por e-mail Enviar por e-mail

32 Comentários para “Deixem o Schumacher em paz”

  1. Andre Bona
    25/05/11 - 23:00

    O Schumacher nao está sob avaliação. Ele é o Schummy.

    O meu pensamento é que ele nos deu o prazer de acompanhá-lo sem qualquer pressão por vitória.

    É o melhor de todos os tempos. O melhor em tudo. Tá passeando. E tem a minha maior admiração. Eu que acompanho F-1 desde que nasci. Foi meu primeiro esporte (como torcedor), muito antes do futebol. Nao sabia nada, mas sabia dizer os nomes dos pilotos.

    O Schummy é o cara. Pode guiar bebado se quiser. É uma lenda. Bela oportunidade da garotada assistí-lo atualmente…

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    Yuri

    eu assistia ele já pensando: vou PODER CONTAR QUE VI ESSE CARA.

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  2. IURI
    25/05/11 - 23:29

    Excelente texto!! Só não concordo que as ultrapassagens tenham deixado o esporte caótico!!! Pra mim elas favorecem que a qualidade dos pilotos apareçam.

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    Robinson

    A minha crítica não é contra o simples aumento das ultrapassagens. O problema é que como o piloto que está sendo perseguido não pode usar a asa móvel, torna praticamente impossível “segurar no braço” um carro mais rápido que o dele. A diferença é grande demais.

    Quem se sobressaiu nesse tema foi o Vettel, que segurou muito bem o ataque de Hamilton para assegurar a vitória.

    Quanto aos pneus, foi ponto. Apesar de uma F1 mais verde não combinar muito com quatro a cinco pitstops por prova, 16 a 20 pneus só na corrida por carro. O bom é que favorece o piloto que administra melhor o desgaste da sua borracha.

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    Bender

    Eu não estou acompanhando muito e ainda não assisti uma corrida nesse ano.

    “o piloto que está sendo perseguido não pode usar a asa móvel”

    A FIA colocou essa regra??? Putz…

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    Robinson

    Eles escolhem um trecho da pista (normalmente a reta dos boxes) onde quando um piloto chega a menos de 1s de diferença do oponente à sua frente, ele pode usar a asa móvel e o adversário não.

    Mesma coisa que jogar war e só poder defender madagascar com 1 dado contra 3.

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    Bender

    Que esquisito isso.
    O cara que levou a ultrapassagem pode usar a asa móvel para aplicar o “X”?

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  3. Victor
    25/05/11 - 23:41

    Show esse histórico dos alemães na F1.
    Até por ter acompanhado no período descrito como hiato técnico e não ter ciência de um grande alemão campeão do Mundo, estranhei um alemão arrebentando.

    Cabe ressaltar que além de monstruoso dentro da pista Schumacher também é craque no desenvolvimento de carro, tanto que ao sair da Benneton para a Ferrari, não pegou o melhor carro, mas ajudou a fazê-lo, e manter como melhor por muito tempo, tanto que ganhou 5 títulos com esse carro.
    O cara apostou no seu taco e viu-se que fez a escolha certa.

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    Andre Bona

    “Cabe ressaltar que além de monstruoso dentro da pista Schumacher também é craque no desenvolvimento de carro, tanto que ao sair da Benneton para a Ferrari…”

    É exatamente isso que faz de pilotos como Schummy, Alain Prost e Nelson Piquet insuperáveis…

    Qualquer coisa diferente disso, é cornetagem de imprensa comprada.

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    Robinson

    Sentar num bom carro, acelerar e ser campeão também tem o seu mérito.

    Mas levar uma equipe a um título, começando um projeto da prancheta e conseguir os resultados na pista, como time é algo muito especial.

    Isso diferencia os homens dos meninos.

    Foi isso que fizeram (para ficar só nas últimas três décadas…) Piquet, Prost, Hakkinen e Schumacher.

    É isso que a Ferrari fez com o Schumi e quer repetir com Alonso.

    Por não possuírem esse diferencial é que David Coulthard e Mark Webber não conseguiram ser campeões.

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    Robinson

    Completando o raciocínio: só quando um talento nato como o do Vettel caiu nas mãos do Adrian Newey que o touro vermelho ganhou asas de verdade…

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    Alexandre N.

    Marroumêno, tio.

    Schumacher ao sair da Benneton para a Ferrari levou TODA a equipe técnica junto com ele. E ter levado esta equipe ajudou a melhorar o carro, mas ainda não era o carro fora de série dos cinco títulos. O tal salto de qualidade da Ferrari aconteceu realmente após 2001.

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    Alexandre N.

    Mas mesmo isso não tira o mérito dele ser um grande piloto.

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    Victor

    O que só comprova que o que aconteceu não foi cagada.

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    Andre Bona

    O que só comprova que o que aconteceu não foi cagada. [2]

    Foi mérito dentro e fora do carro.

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  4. Alexandre N.
    25/05/11 - 23:49

    Faltou falar de um alemão, o Jochen Rindt. Sei que ele resolveu representar a Austria, mas acho ele muito mais alemão do que austríaco (até por quê, ele nunca se naturalizou austríaco).

    Nota interessantíssima: Jochen Rindt foi o último campeão póstumo de Formula 1.

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    Robinson

    Foi o último e único campeão póstumo.

    O que eu não sabia mesmo é que ele nasceu alemão. Mas para a F1, ele sempre correu com as cores da Áustria.

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  5. Bender
    26/05/11 - 11:51

    Show o texto.
    Não tenho acompanhado muito os noticiários das corridas, então não vejo toda essa cornetagem.
    O cara tá passeando mesmo. Estão pagando pra ele fazer o que gosta. Ele tá na dele. Provar mais alguma coisa? HÁ-HÁ-HÁ
    Acho que Schumacher não foi benéfico apenas para o automobilismo alemão, mas para a F1. Dizem que o futebol mudou depois de Pelé. Acontece o mesmo agora com a categoria depois do alemão.

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    Andre Bona

    100% de acordo.

    Qdo falo cornetagem, falo das viúvas… É cada comparativo que lançam que pelo amor de Deus…

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    Romário

    Opa! Chamou parceiro?

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    Robinson

    Eles gostariam de vender jornal com a manchete “SCHUMACHER RETORNA E DETONA TODO MUNDO… DE NOVO!!!” mas o próprio piloto viu que, depois de tanto tempo parado e com os adversários evoluindo demais – até por causa da concorrência acirrada que viveram nos anos de férias de Schumacher – o buraco já estava muito mais embaixo.

    Com não deu certo como todo mundo queria e a imprensa continua tendo que vender jornal, acontece essa enxurrada de críticas.

    Mesmo assim, o cara continua na dele.

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    Yuri

    Apesar que ventila-se – não pejorativamente, mas de gente que diz conhecer F-1 mais que a média – que a última grande crise econômica fez Schumacher passar por tempos complicados (teria ele investimentos de alto lucro e alto risco) e por isso ele voltou… alguém sabe algo? Refutações, confirmações?

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    Bender

    Não lembro de ter ouvido isso na epoca

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    Robinson

    Cara, nunca ouvi nem li nada sobre…

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  6. Aliny
    28/05/11 - 15:05

    Parabéns pelo texto, está perfeito, sensato e feliz em todas as colocações!!!
    Ridículo é ver um cara como Galvão Bueno, querendo descontar o fracasso dos pilotos brasileiros nas costas dos outros..

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  7. Robinson
    28/05/11 - 19:20

    Obrigado pelos elogios, Aliny.

    O compromisso do Galvão é menos com o esporte e mais com os anunciantes da vênus platinada. Uma pena, se tratando de um profissional que acompanha a categoria, como ele próprio faz questão de frisar, há trocentos mil anos. Poucas coisas são mais nocivas a um esporte quanto o ufanismo exagerado alimentado pelo narrador. Por isso ouvimos tanto o lamentáveis comentários do tipo “perdi o interesse na F1 depois da morte do ‘nosso inesquecível herói’ Ayrton Senna”. Na minha opinião pessoal, quem diz isso não acharia o Senna tão inesquecível assim se, por exemplo, o Schumacher fosse brasileiro.

    A má situação dos pilotos brasileiros hoje é consequência da não renovação, que por sua vez é consequência do sucateamento do automobilismo de base no Brasil. Infelizmente temos que engolir a Stock Car como suprassumo das corridas no país e ver uma referência da história autoobilística mundial como Jacarepaguá ser tratado como canteiro de obras e finalmente ser totalmente descartado.

    Os dias de sucesso para pilotos brasileiros podem levar tempo para retornarem. Enquanto isso, como eu gosto mesmo é de corridas e não apenas de pilotos brasileiros ganhando, eu continuo assistindo.

    Visite mais vezes.

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    Andre Bona

    Eu sempre fui fã de F-1 e tambem sempre assisti, independente de brasileiros. Meu interesse inicial foi devido ao maior piloto brasileiro de todos os tempos, Nelson Piquet.

    Mas esse ano, inexplicavelmente, não estou tendo interesse.

    De qualquer forma, GP de Monaco é sempre esculacho. Vale mais pra ampliar minha noção de realidade financeira do que o proprio evento esportivo.

    Monaco é esculacho.

    Essa festinha no video abaixo, realizada em Jurerê (Floripa), é na mesma linha. Consumação mínima per capta: 10 mil.

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  8. Vettel bi: o novo sempre vem
    12/10/11 - 22:55

    […] a Alemanha tem uma boa razão para beber um monte de cerveja para comemorar. E o mestre-samurai Michael Schumacher tem motivos para se sentir orgulhoso de seu pupilo. Essa é a ordem natural das coisas: um gênio […]

  9. O último adeus de Schumacher
    5/10/12 - 18:46

    […] teve tempo para correr sem pressão, pois não tinha o que provar a ninguém, e se divertiu com isso. Tornou Rosberg um piloto mais forte e a equipe mais preparada. No fim, despediu-se, porque até […]

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