O Brasil é o país sem futuro. Nada funciona.
Então, por que a imprensa deveria ser exceção? Qualquer pessoa com o mínimo de capacidade cognitiva acharia esta reportagem repleta de inconsistências:
“Deco diz que Neymar é craque, mas admite: ‘Não gosto dele como pessoa”
Inimigos?
A escrotidão começa logo de cara, ao ilustrar uma notícia com essa manchete com a foto ao lado. Logo depois, o “inexperiente” Deco, segundo o jorna, teria produzido a seguinte pérola:
“Não acho nada. É a vida dele. Ele sabe o que é melhor, o pai, a família. Não gosto dele como pessoa. Admiro como jogador, é craque. Mas isso é um problema dele. Deixa ele fazer a vida dele”
Ou seja, o sujeito trocou o “é um gosto dele como pessoa” para “não gosto dele como pessoa”. Inventou uma agressão descabida, gratuita e fora do contexto. Não foi capaz de interpretar o que disse o entrevistado, avaliar a postura dele, ou foi leviano e maldoso.
Por que diabos Deco faria esse ataque tão descabido? Seria ele pai da Bruna?
A frase inventada somada a foto da reportagem mostra toda a “classe” que permeia nossos jornas. “Classe” esta, incapaz de fazer conjecturas, analisar fatos, manter uma coerência.
Isto faz com que a “cobertura”, com duplo sentido por favor, do caso Interdição do Engenhão, seja feita de forma bastante rasa, sem questionamentos que poderiam enriquecer o debate.
Carlos Augusto Montenegro deu declarações que mereceriam uma atenção maior. A manchete da reportagem foca na decisão do Botafogo de não devolver o estádio, porém parar de efetuar o pagamento dos custos do mesmo.
Bem, se o problema não é culpa do clube, não há cabimento ele continuar pagando pelo aluguel do estádio. O clube deveria até acionar a prefeitura e os outros culpados, por seus evidentes prejuízos. Isso é evidente.
As outras informações na matéria é que são relevantes.
A primeira:
“Estou muito mal impressionado com essa situação. O Botafogo não estava sendo informado sobre os laudos e estudos. Isso é um problema grave. Se a cobertura tivesse desabado, a culpa seria do clube. Até hoje não há um ofício sobre a interdição nem publicação no “Diário Oficial”. Alguém precisa assumir e assinar dizendo que a cobertura pode cair, como disse o prefeito. Depois, vamos aguardar o parecer sobre o que será preciso para reabrir o estádio. Então, vamos nos reunir de novo e resolver o que faremos da vida. Se devolveremos ou não”
Como assim? Ninguém assinou nada? Então o estádio não está interditado ainda? Os laudos e estudos estavam sendo feitos em segredo? A revelia do inquilino? Se havia a informação do risco antes, isso não configura crime? Uma vez que colocaram a vida de milhares de pessoas em risco? Não assumiram o risco de matar? Não é o mesmo princípio usado para prender quem dirige com 0,01% de álcool no sangue? Não aprenderam nada com a Boate Kiss?
A segunda:
“As pessoas ainda acham que o Engenhão pode ter a cara do Botafogo, mas o que tenho visto é um estádio vazio em jogos de Botafogo, Flamengo e Fluminense. O Maracanã vai ser reaberto depois da Copa das Confederações e a posição do Carlos Augusto é de que o Botafogo saiu mal dessa história. Na minha opinião, o Engenhão perdeu a graça. Minha história sempre foi no Maracanã. O botafoguense viu Nilton Santos, Didi, Garrincha, Quarentinha, Roberto, Túlio, Paulo César lá. Depois, teve uma sobrevida no Caio Martins, com momentos emocionantes, mas o Engenhão não pegou. Não dá grandes lucros e nem há uma ligação emocional”
Então, sendo o estádio principal do Estado, abrigando todos os clássicos, e a maioria absoluta dos jogos de três grandes clubes do estado, o Engenhão não dá grandes lucros? Com a volta do Maracanã, o estádio continuará sendo viável? Me parece que o Montenegro tem representatividade no clube, e que o pensamento da corrente que ele representa identificou uma oportunidade de pular fora do Engenhão, agora.
Aqui no Blá Blá Gol, temos a exata noção de que a informação que nos chega, é sempre uma parte ínfima da história completa. Então, nos cabe especular, desconfiar, e perguntar. Todos temos a nítida sensação de que algo está muito errado na história do Engenhão. A coincidência da cobertura durar até a fase final das obras do Maracanã é, no mínimo, suspeita. Aguardemos os próximos capítulos.