O retorno do rei
July 7th, 2009 | 6 Comments | Filed in Tênis
A quadra central do All England Club assistiu mais um importante capítulo do esporte ser escrito por um cidadão chamado Roger Federer. Após bater Andy Roddick e vencer o Grand Slam inglês pela sexta vez, os seus números passaram a comprovar o que todos já sabiam. Aos 27 anos, o suíço conquistou pela 16ª vez um tornei do Grand Slam. Com mais esse troféu, ele superou Pete Sampras e se tornou agora também estatisticamente, o maior tenista de todos os tempos.
A final foi uma partida épica. Andy Roddick, de temperamento outrora explosivo e jogo instável, apresentou um tênis muito mais maduro e soube se impor contra o campeão durante seus games de serviço. O americano esqueceu de sua tradicional freguesia contra Federer e saiu na frente com 7-5 no primeiro set e só viu a sorte mudar de lado no tiebreak do segundo, quando teve várias chances de encerrar a parcial. Federer foi mais frio e levou o segundo set, usando a mesma receita – cozinhar o Roddick para finalizar no tiebreak – no terceiro, virando o jogo para 2-1.
No quarto set, Roddick conseguiu a segunda quebra de saque da partida e com um 6-3, empatou o jogo. E como em Wimbledon não há tiebreak no quinto set, iniciou-se a epopeia.
Ambos os tenistas forçaram ao máximo e, game após game, foram desfilando grandes jogadas. Federer abriu seu cardápio, fez o clássico saque-e voleio, deixadas, alcançou a marca de 50 aces.
Roddick também sacava bem. Aliando sua conhecida agressividade com paciência e estratégia recém-descobertas, seguiu firme por mais de quatro horas de batalha. Alcançou bolas virtualmente inalcançáveis. Ele merece destaque por ter elevado tanto o seu nível para proporcionar o espetáculo à plateia e ao seu adversário, a certeza de ter dado absolutamente tudo de si para vencer. Somente no trigésimo (!!!!!!) game do quinto set -recorde absoluto em finais – ele baixou ligeiramente a guarda, mas o suficiente para que o seu adversário mostrasse o distintivo de campeão. Teve seu saque finalmente quebrado. Federer fechou o set em 16-14 e o jogo em 3-2.
Diante de feras de outras épocas como John McEnroe – como comentarista de uma emissora americana – além de Rod Laver, Björn Borg, Ilie Nastase e o próprio ex-recordista Pete Sampras nas tribunas, Federer pôs em definitivo seu nome entre as lendas do esporte.
Esse foi o segundo Grand Slam conquistado por Roger Federer no ano. Assim, ele voltou a ocupar o primeiro lugar no ranking da ATP, superando seu rival Rafa Nadal. O espanhol não jogou o torneio inglês por estar com tendinite nos dois joelhos. E aqui cabe uma análise importante sobre o duelo Federer-Nadal.
Federer disputou vinte finais de Grand Slam. Como todos sabem, venceu quinze. Perdeu as outras cinco para um mesmo adversário: Rafael Nadal. Embora o tenista espanhol tenha plenas condições para disputar todos os títulos cabeça a cabeça com o suíço, ele ainda precisa se lapidar em alguns aspectos técnicos. O seu estilo de jogo – muito dependente da sua impressionante condição física – o torna muito mais sucetível a lesões como a atual, que não apenas o prejudicara em Roland Garros como o impossibilitou de disputar Wimbledon. Federer, mais equilibrado e técnico, passa em média muito menos tempo em quadra para resolver as partidas e como consequência, preserva seu físico em melhor estado.
Ainda assim, Nadal – mais jovem e de potencial inquestionável – é o único cara que tem a receita para, mesmo em um dia em que Federer esteja jogando tudo que pode, conseguir vencê-lo. Desse jeito foi a final de Wimbledon em 2008. Pelas diferenças de estilo, pelo respeito e admiração mútuas e pela paixão que ambos têm pela vitória, esses dois caras fazem do tênis um esporte a se acompanhar com muito interesse pelos próximos anos.
Roger Federer, com sua elegância dentro e fora das quadras, se mostra como um verdadeiro ídolo do esporte. Sua forma de jogar não deixa dúvidas sobre o seu talento. Mas a forma com a qual ele se dirige aos fãs, jornalistas e aos próprios adversários, seja em seus momentos de vitória ou de derrota é o que revela sua principal característica: não basta vencer, tem que ser com classe. Muita.
Se muita gente já apostava em sua decadência, olha ele lá no topo novamente. Campeões são assim.