Home   Open-Bar   Trollagem   Bolão   Mercado da Bola   Copa do Brasil   Seleção   NFL   Contato  

A Copa vista pelo retrovisor

August 19th, 2010 por | Categorias: Copa 2010.

África do Sul: um novo país que ainda tenta se livrar de velhos problemas

Baixada a poeira do fim da Copa do Mundo, podemos olhar para trás e perceber melhor a grandeza de tudo aquilo que aconteceu no último mês.

Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo desembarcou na África. Pela primeira vez um evento de escala global pisou naquele solo. Pela primeira vez, o mais esquecido dos continentes estava no centro das atenções de todo o planeta.

Durante o último mês, as notícias que vinham da porção de terra mais pobre da Terra não eram sobre o genocídio em Ruanda, a guerra civil de Angola, as ditaduras sanguinárias de Uganda e Zimbábue, a fome da Etiópia, os piratas da Somália, o dramático alastramento do HIV por toda a África negra ou o vergonhoso regime do apartheid da própria África do Sul. Fora alguns olhares preconceituosos que apostavam no fracasso do Mundial, o que se viu foi uma verdadeira festa de confraternização com todas as cores que simbolizam a cultura africana.

Desta vez, não era o USA for Africa a cantar com uma duvidosa piedade seu “We are the World“. Foi a Shakira – também saída do terceiro mundo, mas que faz todo o mundo desenvolvido babar por ela – quem entoou, acompanhada por tambores, que esta era a vez da África. Um convite para entrarmos em contato direto com as dores e as alegrias de um país, de vários povos e de todo o continente. E para vermos futebol.

A Jabulani, de tanta personalidade que tem, só faltava mesmo falar

A participação dos Bafana Bafana traduziu toda a trajetória de seu país. Mesmo que ainda não cantem juntos como Paul McCartney e Stevie Wonder em “Ebony and Ivory, os sul-africanos aprenderam as lições deixadas por Nelson Mandela e François Pienaar (leiam o livro, baixem e vejam o filme Invictus), mostrando que o esporte pode sim ser um fator de união para seu povo. Apesar de não terem ido muito longe, os Bafana superaram suas limitações. Embalados pelo inacreditavelmente maravilhoso e insuportável som das vuvuzelas, eles libertaram suas emoções ao marcar o primeiro gol – e o primeiro golaço – da Copa contra o México e ao lutar até o apito final pela sua classificação contra os combalidos azuis franceses.

A África também se orgulha da seleção de Gana, que igualou o resultado dos camaroneses em 1990 ao atingir as quartas, e que só foi eliminada porque os deuses – ou os demônios – do futebol resolveram dar uma pitada de drama à partida e uma “mãozinha” aos uruguaios.

Larissa e seus Riquelmes: self-marketing de enooormes proporções...

A ressurreição da Celeste Olímpica merece todo o destaque. O Uruguai é muito bem-vindo de volta ao futebol de alto nível, ainda mais por apresentar a grata surpresa – surpresa sim, porque apesar de ser um grande jogador, ninguém apostaria um tostão que ele jogaria o tanto que jogou – do bravo guerreiro Forlán. Outro sul-americano a reescrever sua história foi o Paraguai. Se não foi dessa vez que a Copa do Mundo conheceu o talento de Salvador Cabañas, os paraguaios compensaram ao mostrar ao mundo os todos os talentos de Larissa Riquelme.

A seleção da Alemanha rompeu com dois paradigmas de uma vez só. Um time cujo futebol é marcado pelo pragmatismo e classificado como “científico” foi protagonizou os momentos mais lúdicos da competição. E apesar de ser um país visto tradicionalmente como avesso a estrangeiros, apresentou uma nova geração de jovens talentosos e recheada de sobrenomes pouco ou nada germânicos, naturalizados ou filhos de imigrantes, uma representação do reconhecimento de sua própria multiculturalidade. Por sua vez, os Estados Unidos, mais afeitos ao basquete, ao beisebol e a um xará do nosso futebol, sentiram o gostinho que soccer pode proporcionar como nenhum outro esporte.

Os All Whites saíram da longínqua Nova Zelândia, terra onde reina o rugby, para sua segunda participação em um mundial. O roteiro até parece uma versão futebolística de “Jamaica abaixo de zero”, porém o time do goleiro Paston (sonho de consumo de alguns torcedores tricolores…) obteve seus três primeiros empates am Copas do Mundo e voltou para casa invicta. Entraram assim para a história como o Ameriquinha da Copa da 2010. Sem a Nova Zelândia, os esquisitões da Eslovênia herdaram parte dessa simpatia coletiva e avançaram à segunda fase nos seus uniformes à la Charlie Brown.

Destoando da empatia pública, o Stone Mick Jagger fez o papel de serial eliminator, tendo importância cientificamente comprovada nas desclassificações da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Brasil. Dizem as más línguas que ele torceu para a Argentina também…

Outros personagens surgiram, como simpático polvo Paul, alheio a tudo que acontecia do lado de fora do seu aquário. Por muito pouco o pobre não foi parar em uma panela pelo simples crime de sucumbir à sua gula e ir buscar seu petisco, este que só podia ser alguma sacanagem do seu tratador, estava vindo dentro de caixas chatíssimas de se abrir. Menos mal que ele tornou-se o molusco favorito em toda a Espanha.

O que dizer então da campeã Espanha? Uma seleção que lutou contra seu estigma de eterna coadjuvante nas Copas, a despeito de suas várias gerações de jogadores talentosos, e que no final, conseguiu a proeza de unir catalães, bascos e madrilenhos em uma mesma vibração, sob a mesma bandeira, esquecendo pelo menos por alguns momentos de todas as diferenças.

Espontâneo e inesperado: assim é o amor

Além disso, houve beleza na redenção de Iker Casillas. O goleiraço, que seria execrado em caso de fracasso pela imprensa marrom espanhola por “perder a concentração pela proximidade de sua namorada-repórter”, levou apenas dois míseros gols em todo mundial e foi um dos grandes responsáveis por tirar a Fúria de uma fila que parecia eterna. O beijo em sua musa-entrevistadora foi ao mesmo tempo demonstração de carinho e tapa com luvas de pelica naqueles tolos que pensam que o amor atrapalha o homem. Ao contrário, o amor está sempre na moda.

Mesmo sem ter nada contra os nossos hermanos argentinos, foi melhor assim. Muito melhor do que ver o Maradona pelado.

Tivemos o privilégio de assistir a uma Copa em que a estrela principal deixou de se chamar bola; ela se chamou Jabulani, que muito convenientemente, significa “celebrar” no dialeto zulu. Presenciamos mais uma vez o esporte como a encarnação do que o ser humano tem de melhor, em todos os ângulos, câmeras, imagens em super-slow. Por cada grito de vitória, por cada choro, por cada dança de comemoração e por cada olhar perdido na derrota, bendita seja a celebração do futebol.

E bendita seja a África. O continente é o berço da humanidade e merece entrar de vez no nosso mapa-mundi, não apenas como cenário de safáris e fornecedor de diamantes de sangue. A África é a morada de gente que ri, chora e sente como nós, mas que sofre de privações das quais não temos a menor ideia, tantos foram os séculos de exploração e de abandono a que foram submetidos. Que a partir de agora, aprendamos a enxergar a África como uma parte  do nosso mundo e de nós mesmos.

Paul agora quer férias no Caribe e só pretende voltar a trabalhar em 2014. Nenhum polvo foi prejudicado durante a produção deste post.

Inscreva seu e-mail e confirme pelo link eviado para receber novos artigos do Blá blá Gol.

21 Comentarios Enviar por e-mail Enviar por e-mail

21 Comentários para “A Copa vista pelo retrovisor”

  1. Ana Paula
    19/07/10 - 0:54

    Ótimo resumo da Copa! Muito bom mesmo! Passou um filme aqui na minha cabeça.

    Responda a este comentário

  2. Matheus
    19/07/10 - 0:56

    Pra quem é acostumado com os post’s sobre F1, um dos melhores post’s da época da Copa partiu exatamente de Robinson.

    Vale uma lembrança de dois times em especial. Nova Zelândia e Eslovênia.

    E só uma dica. O filme “Invictus” é muito bom. Mas o livro é muito, muito melhor.

    Responda a este comentário

  3. Victor
    19/07/10 - 1:15

    Grande Robinson.

    Ao fechar o acesso full-time à imprensa, a cobertura do Brasil ficou parecida com a que a mídia faz com os demais times, e acabou por não saturar as grades de programação com Brasil, Brasil, Brasil e mais Brasil.

    Claro que não teríamos muito problema com isso, porque mudaríamos de canal ou buscaríamos o que fosse de nosso interesse, mas o legal foi que como todo mundo foi exposto às mesmas informações, ficou um clima legal de acompanhar as mesmas coisas. Coisas bem simbolizadas pela Jabulani, Larissa Riquelme, Uruguai, Polvo Paul e Mick Jagger.

    Outra coisa legal foi que pela primeira vez percebi um evento efetivamente globalizado. Não sei se por falha de percepção minha, ou se porque inédito, mas não lembro de tanta informação sobre as reações de tantas partes do Mundo como neste evento.
    Não sei se a FIFA criou as fans zones em tudo quanto é canto, mas era interessante observar essas reações em todos os países.

    Dois emblemáticos exemplos são Polvo Paul e Larissa Riquelme, que aconteceram na Alemanha e Paraguai.

    A Copa foi leve e show de bola de se assistir. Dentro de campo não creio que tenha sido diferente das demais, mas acho que alcançou êxito enorme para o telespectador.
    A embalagem do produto que a FIFA e a África do Sul me ofereceram foi aprovado com louvor. Acho até, que esse arsenal descrito no post, mais a característica que as opiniões dos entusiastas encontram espaço para serem propagadas, levam a um superdimensionamento da avaliação sobre os jogos desta Copa do Mundo.

    Nota 10 para a FIFA.

    Responda a este comentário

    Gaburah

    Ao fechar o acesso full-time à imprensa, a cobertura do Brasil ficou parecida com a que a mídia faz com os demais times, e acabou por não saturar as grades de programação com Brasil, Brasil, Brasil e mais Brasil.

    Claro que não teríamos muito problema com isso, porque mudaríamos de canal ou buscaríamos o que fosse de nosso interesse, mas o legal foi que como todo mundo foi exposto às mesmas informações, ficou um clima legal de acompanhar as mesmas coisas. Coisas bem simbolizadas pela Jabulani, Larissa Riquelme, Uruguai, Polvo Paul e Mick Jagger.

    Outra coisa legal foi que pela primeira vez percebi um evento efetivamente globalizado. Não sei se por falha de percepção minha, ou se porque inédito, mas não lembro de tanta informação sobre as reações de tantas partes do Mundo como neste evento.

    Eu não vi nem 10 segundos de Copa do Mundo pela Globo. Em casa foi SporTV 24hs por dia.

    A impressão que ficou foi a de que o ’embargo’ do Dunga à hegemonia global foi de benefícios muito maiores para os espectadores do que se pode imaginar.

    Do contrário, estaríamos mais uma vez a mercê da avalanche de coberturas da seleção (que em outros anos, na falta do que noticiar, massacravam a – minha – paciência dizendo quantas vezes fulano ligou pra casa ou beltrano acordou, foi ao banheiro, acenou pela janela e voltou pra dentro). Enfim, tudo o que eu NÃO estava a fim de saber.

    O peitaço de Dunga empurrou a imprensa para fora da zona de conforto. E a cobertura da COPA DO MUNDO (e não do Brasil na Copa do Mundo) ficou muito mais maneira e agradável de assistir por conta disso.

    A mídia devia era agradecer o Dunga.

    Responda a este comentário

  4. Victor
    19/07/10 - 2:11

    Gustavo Poli: A Copa, a África e Nelson Mandela

    Responda a este comentário

  5. Robinson
    19/07/10 - 8:58

    Não resisti…

    Modifiquei um pouquinho o texto para incluir outras coisas que não podiam ficar de fora…

    Responda a este comentário

  6. lincoln
    19/07/10 - 9:15

    Quando sai seu livro Mr. Robinson? Me dá um autografo??? =) abraço!

    Responda a este comentário

  7. Serginho Valente
    19/07/10 - 10:33

    Sempre excelente. Só é ruim porque não sai porradaria…hehehe.

    Responda a este comentário

  8. Zé Fogão
    19/07/10 - 10:34

    Parabéns Robinson!

    Responda a este comentário

  9. Bender
    19/07/10 - 11:22

    Valeu RÓBINSONSSS!!!
    Grande texto. Agradabilíssimo de ler.
    Dissertou sobre o assunto em questão com visão própria. Sem papo de “imprensa” ou “mimimi a Globo isso ou Dunga aquilo“.

    Realmente foi uma Copa muito caricata, cheia de personagens. Mas entre tantos, entendo que vc, músico, tenha esquecido de um dos mais marcantes. Sem vuvuzeladas, por favor. Hehehe…

    Responda a este comentário

    Serginho Valente

    Simplesmente não leu o texto, como sempre.

    Responda a este comentário

    Bender

    Foi mal cara, não sei traduzir meu comentário para o “serginhês”

    Responda a este comentário

  10. Victor
    19/07/10 - 11:31

    Dancinha da Eslovênia é o que há.

    Responda a este comentário

  11. Marianna
    19/07/10 - 13:00

    Excelente post Mr Robinson.

    Responda a este comentário

  12. Gaburah
    19/07/10 - 14:30

    E falando nele…
    Casa de apostas da Rússia oferece R$ 8.850,00 de salário ao polvo Paul

    Responda a este comentário

    Robinson

    Tem algo errado com esses russos…

    Então é assim: um polvo “paranormal” pode de repente ganhar mais do que os tais especialistas da empresa de apostas (imagino uns caras muito nerds, daqueles que ganhavam olimpíadas de matemática desde o jardim de infãncia).

    Acho que o polvo é quase tão marqueteiro quanto a Larissa…

    Responda a este comentário

  13. Serginho Valente
    19/07/10 - 16:21

    Larissinha…

    Responda a este comentário

  14. Então, Dilma ou Serra? « Barecon
    21/07/10 - 20:04

    […] Posted July 21, 2010 Filed under: Economia | Tags: Eleições 2010, Política | Finalizada a Copa do Mundo e passando o caso Bruno, o que tomará espaço em todas as mídias são as […]

  15. Bender
    22/07/10 - 12:16

    Esse post merece esse link
    http://www.lhamamute.com/80-fotos-da-musa-paraguaia-larissa-riquelme

    Responda a este comentário

  16. larissa riquelme
    30/07/10 - 17:19

    É verdade, muito boas estas fotos mesmo!

    Responda a este comentário

Deixe seu comentário